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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2020

Sem espanto

    Foto: José Lorvão   A seleção natural impõe-se como carrasco em tempos de pandemia Que faleçam os fracos os velhos doentes criminosos reles e incompetentes Excluem-se sem pejo os depressivos os inúteis vítimas da sorte Rodam os palcos e o público assistente aliena-se na contenda Do desperdício do horror no desviver lentamente em agonia Inerte qual veneno paralisante na sobranceira crueldade da asfixia Caldeirão onde se emaranham as salsadas e a energia negra do vilão Espalhando-se perpetuamente de forma infinita e cega Pelo elevador metálico qual cárcere panorâmico da manhosa ilusão   Já não acontece nada à superfície que me seja estranho Enquanto o sol vai a pique os elementos fundem num contrair medonho A física e a química transmutam-se sem objetivo e sem meta E a refeição é droga apurada na pressa do escape Pelas imaginações vertiginosas sem controlo de criação inquieta Provam-se os laços perdidos na lonjura e desmembramento do encanto Na vis

Gotas de suor

  Foto: José Lorvão   Procuro a sombra tingida de salvação com os pulmões exaustos Fugindo do braseiro porque o sol se revolta e perfura-me os ossos  Transformando-os em areia crepitante corroendo-me por dentro Empurrando-me e aprisionando-me na campânula do tempo Ampulheta hipnótica escorregadia numa dança invertida Aprumada com o núcleo terrestre e de movimento esfaimada Ignorando desfasamentos e demónios inspirados em lugares sangrentos Enquanto o embalo do berço adoça a alma e a faz dependente do sono Do ritmo enganador da engrenagem topológica do abandono     Gotas de suor gelado humidificam o rosto da criatura à minha imagem Que se esvai perante a tontura provocada pela brisa abafada Só pode ser o vento lento soprando da serra ocioso   Que me sussurra ao ouvido o local secreto da passagem E invadindo-me desarvorado na ondulação vertiginosa do mar Incute-me a vontade que pede o repouso em sigilo suplicante São as profundezas das águas que anulam o