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A mostrar mensagens de novembro, 2019

Embarcação

Vibro na inquietação das unhas esgarçadas de quem boceja sem vintém No colapso vertiginoso da vida num inconstante salto à vara Que para não definhar empreende as correrias do desastre e nunca se detém A embarcação é una como um emaranhado de tentáculos de informação Em que não há fronteiras nem muralhas nem canais de laqueação Pois os caminhos retornam sempre à matriz da engenharia embrionária Açoitada pelas galerias de fogo que esfriam petrificando o ovo Na temporalidade prisioneira de dissimulação da fama Que se dilui na poça de água colada ao pesadelo debaixo da cama No entrançado das janelas do corpo dilatado e sangrando Espreita-se o branco puro de outros aranhiços Marchando em carris de lava vertendo-se no mar revolto Em múltiplas flutuações de dinamismos cortantes Na amalgama leitosa e gelatinosa de seres rastejantes Porque tudo o resto no coração da Terra anda à mercê da obscuridade Nos esconderijos dos bolsos cravejados de tesouros

Transações de alta velocidade

Baila a timocracia por cima das cabeças dos nascidos por engano Colando-se à psicose coletiva da robótica humana inativa Enquanto as artes vertem sangue na ambiguidade dos dejetos E a savana guarda os vírus em bolha explosiva esperando transporte Para a noite gélida que se adivinha no bolbo raquidiano dos mamíferos Que em retirada se refugiam no subsolo em grutas demenciais Porque o humano adquiriu novo significado Transforma-se em besta à solta E empreende o genocídio desacreditando no amor Rasgando a confiança erguendo a instalação estratégica da banca rota Ergue-se nas trincheiras um mercado que serve o amontoado de parasitas Que apenas exploram tronos sem darem nada em troca Sorvendo o trabalho árduo dos que transitam na base da pirâmide A inteligência artificial impõe-se do alto dos arranha-céus perante plateia morta Em orgasmos de luxo desenvergonhado rindo e gozando da humana escravidão Perante os abutres que esvoaçam por céus obscuros

Corais de betão

Foto: José Lorvão Assomam bigornas nos túneis minados das cidades No escalar das nuvens de algodão amargo de ambiente ácido e hostil Enquanto os anfíbios criam cenários de engodo e diversão Que originam fobias nos autómatos invisuais manipulados em rédea curta Onde só a energia das estrelas poderá alterar o rumo contaminador de corais de betão Caem por terra as tentativas dos jardins suspensos e as hortas nas alturas O refúgio nas montanhas é austero mas serve de barreira Aos parasitas de ventosas açambarcadoras De flutuantes embarcações em eras de inundações Estão mortos os gigantones corais de betão O rendilhado das ruas e os atropelamentos geram o pânico e o embaraço Os pelintras usam esquemas saltando por entre teias umbrosas Vivem de astúcias argumentativas paupérrimas e sem ética Vendendo e matando os da sua própria estirpe com pontiagudo aço Nasceram dos cornos de um deus falsário Mágico sarcástico de fedorenta gastronomia Assinand

Tempo para respirar

Emudeço no fechamento ao ruído e histerismo E mergulho na contemplação dos traços das palmas das mãos Tentando adivinhar onde na minha existência errei Perante a insatisfação o espanto a queda Para que poços infinitamente profundos me atirei Estendo os membros tateando o insondável nesta neblina cerrada Provocadora de tragédias em vereda acidentada Onde me falta tempo para respirar por entre os pingos de chuva De percorrer descalça a praia deserta em neblina difusa Chapinhar na água salgada e transformar em glória esta paragem incerta Esquivo-me por entre os abraços e construo labirintos de estonteamentos Que cegam desfazendo laços e cortando códigos entre amantes Quando a solidão retorna na ausência dos pactos Onde pincelo eternamente as telas transparentes do sobressalto Fecho as distâncias do amor em movimento de hélice Atraindo vendavais tépidos bordados a sonoridades murmurantes Sobrevoo topografias de azul e branco Enquanto o

A melodia das rosas

Foto:José Lorvão A escuridão inventa melodias táteis sem língua nem expressão Perante um corpo que se perde num aperto esbanjado em interstícios estelares Surgem ramos floridos de onomatopeias que esvoaçam sobre as gargalhadas dos puros Mas logo o inesperado alérgico brota em jorro do sagrado chão O pingo de água na folha de papel e o inverso das vozes gera um código ancestral Onde se confundem o veludo das pétalas e das aranhas Como se fosse guardião disfarçado camaleão de um alto portal A caneta roubada deslizando sub-reptícia e cambaleante até à saída Que é também histerismo sem entrada por entre a multiplicação das cores E a dependência psicótica em cinematografia dos horrores Quebram-se as sílabas desengonçadas da rutura O ruído o perigo as pétalas amachucadas A decomposição do cordão umbilical as estirpes rachando O acordar em plena floresta sem cerimonial Onde os rastejantes arrepiam e os fungos vermelhos encantam envenenando Beija