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A mostrar mensagens de junho, 2020

Na profundidade da memória

Foto: José Lorvão   Sinto-te instalado no lago calmo da minha memória É lá que me reconstruo por entre os dedos envelhecidos de tricotar mágoas Escrevendo repetidamente o traçar colorido dos sorrisos e choros Que me agrilhoaram os encantamentos de infância Perante contratos terrenos presos às correntes nos adormecidos sonhos Pelas vergastadas dissimuladas na marcha da censura Que me orientaram os abraços que ficaram por dar Nas tempestades abrasivas e cheias provocadoras de rios enlameados De gemidos famintos de afeto e travessuras sem pecados   Vejo-te aprumado pelejando pela vida experienciando a morte de irmãos Por venenos e soterramentos onde a tragédia espreita Como um bicho virulento sempre de atalaia Esperando a oportunidade de lançar a facada nos desprevenidos Sem meios de sobrevivência pobres e inocentes Como anjos que flutuam no espaço adornados de cambraia   Pressinto desde sempre a tua luta contra as injustiças E a coragem de enfrenta

O estrépito galopante do suicídio

  Foto: José Lorvão A desesperança opressora cava sulcos no cérebro Quando a depressão demoníaca queima neurónios Perspetivando a guerra eletromagnética num subjetivismo sombrio Pois só os delinquentes se aguentam no cenário austero Porque desapareceu da face da terra o espírito do guerreiro   A estranheza do envolvente recorta faixas da manta negra Entrançando a inaptidão de bem-querer que se afunda No mar espesso e vertiginoso da exaustão E a imperícia para sentir o respirar como dádiva Provoca a queda abrupta e a asfixia do mundo interior Que crepita como substituto do morrer lentamente em agonia Perante um sabor metálico corrosivo do bater do coração   Não há como ultrapassar o horrível esquartejado do mundo Instala-se a virose cruel da carência do amor próprio Vazando os olhos e as veias de sangue derramado A vontade do declínio sobrepõe-se à do existir Em que monstros praticam  atrocidades sobre os humanos Onde se deformam em engenhos sedut

O desbotar fatal dos tecidos

  O rasto açambarcador do puzzle higienizado cria fobias Nos pormenores psicóticos de todo o gesto premeditado Implodindo o cérebro pelos carrascos programado Embirrando e defendendo que tudo o que é diferente é pecado   O medo que permanece até depois do sol posto Desbota as cores as dores as raivas e os açaimes Na impaciência provocadora de vertigem na criatura Proliferando as máscaras asfixiantes tatuando os rostos Abrindo rasgos exalando eflúvios na putrefeita textura   As olheiras sintetizam a repulsão de uma felicidade em fingimento Na transparência da intolerância do meu interior sem contentamento Flutuando sobre nuvens tentadoras de sonhos e diabruras Pulando ritmada pelo solfejo incontrolável da impregnação Esquivando-me à temperatura elevada do fogo posto Dançando enleada pelo florescer belo da miscigenação   A fartura e a fome na decadência humana criam laivos de loucura A lixivia que intoxica consome vírus e bactérias de todo o porte

Carreiro estreito

  No andar a passo o animal majestoso sem sela Desloca-se pela ravina indomável e livre De crina macia agitada pela luz ondulante do sol O cavalo trota agora confiante na destreza ancestral Apesar do terreno pedregoso levantando poeira A queda iminente no abismo estreitado pela serrania É a solidão e a temperança que naquele momento Em tão difícil passagem a nossa força nos unia   A montada a galope desbrava a flora que se verga ao contacto dos cascos Transporta no dorso o desejo de semear para os que ainda estão por nascer  Ultrapassando pesarosas galerias de acesso aos improvisados jazigos Oscila entre o cume e o agreste desfiladeiro a cavalgada Ouvem-se os uivos nas encostas e a vigília das feras ansiando o comer E eu desejando ávida nova realidade pela anunciada madrugada Quando os estábulos ficam para trás perdendo-se nos falsos abrigos Que prometem renovados genomas e o afastamento de perigos   Transporta-me o espírito da liberdade para outro