Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2019

A sustentação das águas

  Foto: José Lorvão Meu corpo avança nas águas vibrantes pelo remoinho de vento Levantando o areal em vórtices de instável desalento E a solidão que me dá o nome cria enredos e flutuações Transparências arrepios disfunções com que me acalento Em mar salgado que me massaja os músculos do desapego Retorce-se o gelo no recorte da enseada Pela fortificação denunciadora de pavores abaulada Estratagemas de defesa perante desavindos de atalaia Em batéis de corsários distribuindo o lucro e o poderio Em tempos esquecidos pelas correntes enleadas de Maia Volteio abraçada pela sustentação das frias águas Como criatura sem rosto na invisibilidade da indiferença Sem refúgio onde adormecer as dores obtusas Do retorcer sádico das fraturas cravadas em espetos Amanhecendo em lugar nenhum no desconfigurar dos esqueletos Só a foz do rio prateado me orienta os movimentos Me alerta me vigia me empurra e me absorve os pensamentos Me embala me rasga as forç

Escrevo no pó

  Foto: José Lorvão O pó acumula-se indolente na formatação dos utensílios Ultrapassados pelo bolor dos séculos Enquanto criaturas se esbatem por entre as incisuras de um tempo selado Que venham as lavas e os fogos para reduzirem a cinza A estranheza dos artifícios plastificados Na toada desagregada dos não perdoados onde tudo é névoa Pois já não distingo os caminhos nem os ninhos Entre o cereal comestível e a daninha erva O aperto no estômago explode em lança perdida No centro da esquizofrenia humana Que não se apazigua mas dilacera perfura apodrece e engana A dor lancinante na cabeça pressiona o olhar sem roupagem nem lar Comprimindo o ouvido provocando o bloqueamento do maxilar Mesmo num ténue e disfarçado gemido Um murro obscuro onde se destrinçam estrelas Inicia a desintegração sincopada das articulações Abertas em desintegração total sem balizas nem portões Tornei-me intolerante aos desperdícios e à sujeira À desarrumação sem just

Sinais do corpo

Nódulos perniciosos instalam-se pela calada sem sintomas E cravam-se por entre os ossos e o músculo Anunciando o ritual da miscelânea gastronómica Provocando o desabamento das estrelas por entre o crepúsculo Os traçados vincam-se em mapas denunciadores do efémero Provocando ovulações guardadoras de estirpes resistentes Aos ambientes contaminados pelos primatas sábios Selando os testamentos falsos de folhas amarelecidas Diluídos pelas pastosas impressões digitais Pelo frenético sanguinário desenfreado da caça E pela saliva patológica das feras estropiadas O corpo mutila-se em indeléveis cicatrizes O lugar da cauda em depressão duvidosa Teimosamente abraçando o passado genético Dança com asfixias alérgicas Sofrimentos em queda quântica E as traições interiores em simulação de suicídios e sinusites O corpo baralha-se nas rebentações do mercado No morder da própria língua No roer as unhas como animais insanos Cortando os atilhos que prend

O vigilante

A energia sobranceira às almas agitou em sopro as folhas Sobre as cabeças esgotadas pelo destemperamento das batalhas Ardilosamente desenhadas pelos capitães dos campos de morte Então o vigilante qual câmara ecuménica capta a imobilidade num leito Antecipando a cena cinematográfica saltando cenários afastando o perfeito Denunciando o esgotamento acelerado dos órgãos Sem viagem paradisíaca nem sonhos nem belas paragens Deixa-se fotografar somente a cena trágica pelo olho artificial Apenas traindo a vontade de viver por entre múltiplas linguagens O desvelado abraçou os caídos e o progenitor Adormecido inerte pelas teias venenosas do tempo Cerceou-lhe a fome abrindo-lhe a boca aconchegando-o Atenuando-lhe a ansiedade limpou o corpo cambaleante Aprisionado impotente entre a luz e a escuridão Enquanto a respiração ensaia melodias de despedida Em nervuras sombreadas estancando a deglutição Estratégia lúgubre que atenua o processo de retorno ao avesso

Redes de penúria

  Foto: José Lorvão Procuram as lagartixas refúgio debaixo das pedras Enquanto os homens se sujeitam a primatas Imbecis sem pudor alarves da manipulação e chantagem Assentando arraiais no despudor da pérfida aragem Que a brisa se inverta na garganta estreita Estrangulando os chantagistas que em desequilíbrio Deslizam por entre manchas de óleo rodopiando nas barragens Dejetos de cruzeiros pomposos promíscuos de empobrecidas linhagens A temperatura mortal dos fornos enlouquece Os touros revoltados na lezíria transfigurada Que provoca a corrida em debandada afincando os cornos O sol abrasador tece redes de penúria E vozes que se escondem nos rios secos da amargura Quando as raposas deixarem de vir comer à mão de assassinos E mostrarem os dentes afiados Talvez então os ostentadores de topázios se engasguem com eles E asfixiem num gemido de último prazer Engolindo o que tanto anseiam e guardando As pedras resplandecentes no ventre abaulado

Decesso camaleónico

A morte espaventosa suspendeu atmosferas corrosivas Sobre as cabeças dos gigantes tricotando cachecóis Para abafar gargantas no forno dos desertos Assinou um pacto de limite temporal em neutra paisagem Para que as folhas de outono se transformassem Em fungos berrantes nos recônditos obscuros da floresta virgem O passamento abraçou a dor dos enfermos e prometeu Que a prole sobreviveria às garras do bicho homem no inferno Permanecendo enlouquecido e afundado em milhões de cérebros Implodindo numa chuva de caruncho em noite gelada e húmida de inverno A morte trajou-se de mansinho e instalou-se Perto dos andarilhos estáticos sobranceiros ao declive Onde os fósseis dos dinossauros selaram as galerias dos defuntos Suspensas dos penhascos ancestrais Antes da esperteza delinquente e manhosa Ser coroada pelos povos acabrunhados e ignorantes Cobardes cabisbaixos e rastejantes Enfeitou-se o óbito de pechisbeque e tilintou por entre os canais B

A emboscada do nascer

A pele amarrotada impõe-se ao respirar de um términus Que apenas garante a fração de segundo para um sorriso de abalada Para outros istmos outras ilhas novas barcaças Num corpo seco e calejado que faz frente às intempéries E ao ritmo do trovejar ensurdecedor Desliza-se no prolongamento dos desvairos e amarguras Perante os tímpanos furados na repetição dos gritos e gemidos Pelos abandonados órfãos do genocídio permitido pelos inertes Que nem pela revolta se levantam Nem a liberdade louvam Nem pela bofetada ripostam Mirram os órgãos na paragem do voo Pois os parasitas comemoram a festa da sobrevivência Dando dentadas afiadas no lacrimejar da miopia esfarelada Aguardando o laser da incógnita entre o florescer e a vida alagada A língua recolhe-se à míngua de discursos Pois só o chilreado dos pássaros é sagrado As mãos desenham o último gesto de socorro na genealogia inflamada Enquanto os abutres visionam o alimento putrefato Arrasando o proc

Negrura

A missiva perde-se num baú enterrado nos confins do cosmos Enquanto a eternidade vomita uma gargalhada Esperando sem pressa o desterro da criatura metralhada A mensagem é agora de toques e afagos abraços e sustentações Arrastamentos quedas e revoltas interiores Amarradas ao silêncio imposto pela negrura do intruso instalado Na florestação incendiada pela malícia do acaso Pelo enterro dos corpos e cremação dos sonhos onde o ócio nunca entrou Pois pela vigília e trabalho forçado se impôs Enquanto a delinquência das estirpes manipuladoras de almas Corrói os núcleos sobrepondo-se aos brados numa ditadora voz Apenas o som dos metais e das gargantas articuladas Provocam metamorfoses de obras de arte Idealizadas previamente no ventre das deusas Que dão e tiram o alimento aos renascidos Num jogo de sobrevivência sem normas hierarquias valorações Apenas um estouro abrupto inesperado e curto Se faz visível na sua majestosa iminência Então a viag

O escalpar dos afetos

A chuva miudinha transversal ao céu e ao chão Rasga as cores baralhando-as numa amálgama cinzenta indefinida Sustentada pela agitação dos gases paralelos ao mar das afetações Perante o escalpe anunciador do perigo da abrupta mudança Espreitando o espelho que reflete o encadeamento dos troncos Em contornos ondulantes de aguarelas Enquanto os laços se rasgam pela força bruta De um devir cínico e malabarista Brincando com os entes inventores de mitologias Que se escondem na representação das coordenadas fictícias Assinaladas em mapas inventados ávidos de eternidade A lâmina desliza pela garganta Onde os sulcos salgaram os rios da ilusão Suspensa no estendal de roupa branca Enquanto as crianças colhiam flores silvestres nos campos verdejantes Esconderijos de serpentes e dos grilos cantores Aguardando o dissecar da pele gretada Que se entrega finalmente ao nada O escalpar dos afetos é resguardado pela impetuosidade do sol Que indiferent

Que fazer?

A vertigem da vida enfeitiçou os corpos extenuados E de repente só a mensagem é imperativa Amainando a dor da cisão iminente Num processo triturado entre a inquietação e o padecimento Que hei-de fazer? Perguntas como se o mundo a teus pés desaparecesse E o teu próprio corpo outrora saudável te traísse Por entre a impotência descarada que flutua em teu redor   Criando galerias obscuras que enfrentamos Perante uma troca de olhares e a face acarinhada Contemplando as mãos frias procurando o aconchego do calor Suplicando a força dádiva da vida energia Que periclitante se transformou em pacifica melodia Seres invisíveis dançam por entre a coloração dos malmequeres E a acidez dos limões desafiando os raios de sol Moldando feiticeiros saltitantes aguardando o cântaro quebrado Enquanto o abraçar se materializa entre faíscas do encostar de lábios Em pele de formas gretadas imprecisas e amadas Acenando confiança numa engrenagem maior que premeia O

A gorja profunda da existência

Foto: José Lorvão O resvalar no vórtice alucinante da existência Cria serpentinas feiticeiras na irrequietude das hélices Pelas trocas múltiplas dos pares dançarinos Enquanto embaraço o fio que sustém as possibilidades Corrigindo os códigos suspensos nas fragmentações estelares Por entre o abrir de bocas nutridas pelo deslizar das improbabilidades No rodopio do tempo apareço como rasgo de tensão Balouço cambaleante em gestação equilibrista de profissão Surjo num arrastar sem pouso nem forma Membros desnorteados mãos trementes na inconstância da transmutação Um archote aguardando iluminação sem norma Fala entaramelada palavra salteada respiração assaltada Trocadilhos sem coerência pulando em mente agitada Batuca a convulsão na mensagem incompleta Testemunho interrompido pela gravidade Desfalque sem juízo corpo pesado Cântico improvisado elemento embalado Alimento de fungos revoltados sem chão nem telhado Bactéria faminta cegueira indisti

Os escombros distorcidos da ambição

As camas de terra circundam os fetos em oração Às mães que debandam para esconderijos fugindo dos alacraus Que enlouquecidos pelos complexos de inferioridade Resolvem incutir ferroadas por entre labaredas de paixão Os floreados das galerias de entubação criam armistícios e sortilégios Perante as bocas ávidas em devoção Protuberâncias acanhadas na languidez dos preguiçosos Lambendo os restos e camuflando os membros Nas ventilações das fornalhas em trocadilhos ociosos Os fungos agitam-se no processo ambulatório do cordão umbilical Onde o vampiro marca o passo sequioso pelo vinho da sagração Lança o engodo reparte o farnel e sacia o narcisismo Preso no sepulcro do alheamento da tina do batismo Cogumelos agitam-se no folclore das pigmentações No intermédio do ser e não ser retesando os minérios Nas andanças dos estratos e das segmentações Da perpetuidade trapezista onde se equilibram as bestas No bico afiado da espada do rei desequilibrado e de