Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

Inverno tenebroso

  Abraço o corpo enfraquecido pela turbulência dos lodaçais Que agoniza perante as chuvas que se evaporam em solos de mordaças e temporais Refugiando-se a mente num submundo sem escravatura Fervilhando a revolta perante a indiferença e chacota dos demais   O isolamento contorna cada curva do feminino Entontecido pelas cavalgaduras sem rosto Capta sementes de destruição Torrentes agressivas de desilusão E os sorrisos transformam-se em rasgos de bocas Onde dentes sem mácula se preparam para triturar e engolir as presas   A sofreguidão de mimos e bajulações é tanta que se escarra Para cima de quem se mantém afastado da mímica De adoração de mafarricos à solta Batendo asas como loucos mesmo sem poderem voar     Neste inverno as nuvens pousaram em campos contaminados Em pulmões doentes expostos ao inquinamento das viroses Em hepatites devoradoras de órgãos contaminados por sugadores de sangue Proliferaram nas chicotadas psicológicas da loucura No

Desnorteamento

  Perdi a hora! Ergo-me da cama pela madrugada pensando serem horas de ir trabalhar Levanto-me e o ritual de saída de casa é feito sem pensar Alguém me informa - o que fazes? São cinco da manhã!   Caio em mim admitindo a desorientação O que andamos nós a fazer uns aos outros? O que estou a fazer a mim própria? Um vírus camaleão que nos assola há anos e permanece E uma guerra provocada por monstro mal-amado Que bane do vocabulário empatia e dignidade   A tosse viscosa pega-se a tudo e todos Como verme de ventosas colado à máscara A respiração ofegante anuncia a patologia instalada E mal o sol desponta há um ser humano a gritar sozinho No centro da rua revoltado contra tudo e todos   É o meu espelho! Estou muito perto dele! Os gritos de indignação e denúncia Permanecem acoplados ao coração agitado E o sonho da noite sacudiu as vozes gerando desabafos Ergueu os braços contra a incúria ignorante Caráter    pequenez e egoísmo que maltrata e

Germinação da esquizofrenia

  Foto: José Lorvão   A asfixia sobrevem abafando ainda mais dolorosamente o silêncio Os pássaros escondem-se algures na penumbra do arvoredo Dançando perante a indiferença do sofrimento humano o ritual do acasalamento Quando o sol desponta depois da tempestade de areia anunciando a ignorância Enquanto as malvas insistem na purificação das estações abraçando o momento   O negro aranhiço desencadeia tentáculos de extinção Tricotando laçadas de ganância que germina Na mediocridade acesa dos oligarcas Convencidos que o mundo gira à sua volta E que todos têm obrigação de veneração Cegos ao ângulo iluminado pelo amor Provocam a morte e a destruição   Os meandros caudalosos secam na cinza radioativa Sobrevoando a besta ensanguentada apontando os chifres Evaporando pisaduras colossais e sonoridades de pertença Despindo vestes cosmopolitas e tatuando ódio sobre o nu Dos corpos violados num mundo cinzento adverso Sem lei nem sorrisos de crianças num trist

Equilíbrio

  Procuro equilíbrio no bico do prego revestido de ferrugem Perante as vergastadas invisíveis que me dilaceram A amígdala sobrecarregada com a invasão dos répteis Abrem-se os instintos escorrendo a ansiedade do corte Ondulando a depressão incontrolável massacrada pela visão da morte   Há um bloqueio em forma de choque que me trespassa a alma O respirar mecânico arrasta consigo os desgostos Enfeitados pela indiferença de quem perdeu a capacidade de sentir empatia Disfarçam-se os maus-tratos a hora certa Num trabalho austero em que a porta de saída está sempre aberta   A dubiedade é irmã gémea da falência A inquietação e esmorecimento acumulam-se Perante o cenário acabrunhado e cinzento onde floresce a indecência   O rebaixamento é executado com a frieza A depreciação provém do fundo do poço Onde as algas esfomeadas desejam o estrelato E as trepadeiras se enrolam aos nossos pés desejando a queda Em abalroamento do corpo e espírito Perpetradas p

Máscaras de dor

  Foto: José Lorvão   As mãos vibram como prolongamentos de um corpo insaciado Mondam as ervas que teimosamente atapetam o solo húmido  Das chuvas tristonhas de início de Outono Enquanto os humanos acariciam o medo sem glória nem trono   Em agachamento as pernas procuram o equilíbrio Sobre o odor das raízes das ervas daninhas Fixando segredos da vida na profundidade da escuridão  As costas dobram-se em vénia como que adorando o solo E sob o sol e o calor do estio contaminador de suores A dor sobrevém contorcionista exposta num trapézio instável Dissolvendo o rosto irreconhecível nesta movimentação   O semblante dilui-se na secura abafada dos dias Enquanto a respiração acelerada No esforço de cavar a terra desmaiada pelo abandono Lado a lado com a mudez humilhada Em sonoridades múltiplas criando renovadas vastezas Rebelando-se a criatura contra a escravatura disfarçada   A máscara permanece apertada contra o nariz Escorrendo fios de alergias na

Ao Encontro da Terra

Resistir

  Foto: José Lorvão A minha própria voz soa-me a desgaste Não sou eu! Apenas um molde das marés Um retrocesso mascarado num “déjà-vu” Embrenhei-me no fluído de imprecisão ondulatório E deixei-me conduzir pela corrente magnética Controladora de pânico por entre o enredo sufocante Num ambulatório cortante e desconcertado A caneta apresenta-se agora nestes dias de ausências Arremesso pesado estranho e ignorado   O azul claro do céu temporário tornou-se por instantes o meu alimento E as árvores! Sempre as árvores companheiras de partilha De trilhos sonoridades e gustações atenuando as dores do inferno Perante a dança ininterrupta dos pássaros E o sol que me aquece e aconchega neste final de novembro Põe a descoberto igualmente toda a beleza e fealdade No retorno ameaçador da pandemia com a invasão do Inverno   A mãe natureza assume a zanga e provoca ameaçadora Tempestades e inundações, explosões vulcânicas Lembrando ao convencido que tem controlo

O corpo

  O aglomerado retesa-se pelas forças da desordem Com o espirro a lançar-se furioso sobre a vidraça quebrada   E o corpo deteta o perigo nas articulações em alerta Selando fungos viroses alergias e psicoses Esmagando o prazer na zona obscura e silente do ser Insurgindo-se vociferando contra ruídos dos joguetes de lata Circulando nas veias apertadas e esquizofrénicas da ganância A urgência da crença nos valores humanos ficou adiada no passo das cavalgaduras Enquanto pedagogos copiam estratégias ultrapassando traumas e subtil terrorismo O corpo sonha o seu desagrilhoamento concebendo-se na sua identidade Tentando construir ninhos de incógnitas na circularidade do parasitismo   O subjugado abjeto trespassado pela perturbação Ensaia a deterioração pela insatisfação apurada em vácuo Pois a igualdade humana é fictícia numa película de terror E a não interferência testemunhando ocorrências destruidoras É sinal de indiferença insensatez insensibilidade ignorânci

A reconstrução da tela

  Foto: José Lorvão   O sustento transparece à tona em petulância glacial As incisuras absorvem ondulações entre o prazer e a catarse da desconstrução O corpo apaga na ponta dos dedos as cores deslavadas do passado A garganta perfurada silencia os medos tocando o desconhecido O bater cardíaco sente a desmontagem dos alicerces E a decomposição vertiginosa dos fluídos de cores Substitui em transe as autómatas preces   O ser contorce-se rasgando ângulos retos agudos obtusos Pressionando sulcos antecipando explosões Delineando revoltas de cruzamentos em lágrimas microscópicas Revogando lavas ditatoriais por túneis de escoamento Inventando carreiros e flumes oscilantes onde se agitam ruturas Gotículas de suor tombadas em pontes de armazenamento   Desabrocham superfícies ressequidas em recriação ligando ossos quebrados O combate instala-se contra o diabólico de pura fachada Na alteridade renascem sentimentos e perspetivas de entroncamentos E o poema c

O odor da causticidade

  Foto: José Lorvão   O aroma agonizante do vinagre lança dardos cortantes na pele desprevenida Na visão angustiante da carne das mãos, mirrada e carcomida pela acidez da indiferença Lutam as formigas por comida escondendo-se nas ervas daninhas invadindo palácios As portadas entreabertas, sem receio de assaltos pois que nada existe de riqueza E o abismo espreita sobre a escadaria de uma biblioteca inventada No deslizar de um crocodilo de boca aberta e esfomeada     Os pés descalços da princesa esmorecida sem vontade de se rebelar Provocam o colapso das veias na palpitação das unhas rasgadas Contra as vidraças ocultas e estilhaçadas do assalto iminente Esvoaçam os passos de fantasmas num piso de silencioso abandono Velando o pranto sufocante do inocente   A claustrofobia esgarça um espaço reduzido imitador do céu Com gradeamentos a ouro suspensos pela agonia E a esperança arcaica e carcomida de que a morte Será rápida como relâmpago na interminável no