Foto: José Lorvão |
Que faleçam os fracos os velhos doentes criminosos
reles e incompetentes
Excluem-se sem pejo os depressivos os inúteis vítimas
da sorte
Rodam os palcos e o público assistente aliena-se na
contenda
Do desperdício do horror no desviver lentamente em
agonia
Inerte qual veneno paralisante na sobranceira
crueldade da asfixia
Caldeirão onde se emaranham as salsadas e a energia
negra do vilão
Espalhando-se perpetuamente de forma infinita e cega
Pelo elevador metálico qual cárcere panorâmico da
manhosa ilusão
Já não acontece nada à superfície que me seja estranho
Enquanto o sol vai a pique os elementos fundem num contrair
medonho
A física e a química transmutam-se sem objetivo e sem
meta
E a refeição é droga apurada na pressa do escape
Pelas imaginações vertiginosas sem controlo de criação
inquieta
Provam-se os laços perdidos na lonjura e desmembramento
do encanto
Na visão sem espanto da cuspidela acelerada da serpente
Pois por momentos num desespero deixei fugir o
espírito da criança
Que me salvava dos mundos inquietos assombrados em jeito
demente
Agora o enfado esquarteja os alimentos cedendo à
garfada
Ingerida no calor peganhento da atmosfera em delírio
Enquanto os escravos do trabalho devoram os conteúdos
enlatados
Na véspera à pressa depositados a correr na marmita
Aguardando a mastigação lenta engolindo a custo
Num canto de incerto chão entre paredes em fusão
Ou no banco traseiro fora de prazo de uma enferrujada viatura
Ansioso tédio desejoso de outros entusiasmos num ambiente
justo
Uma existência que se agite e provoque sorrisos em
inocente diabrura
De quantos esconderijos é o mundo feito
De quantos coros estridentes
De quantos morros superlotados de arquiteturas doentes
De quantos gemidos e bramidos
De quantos mortos queridos
De quantas traições
De quantos cenários deslizando na rudeza crónica do
corte a navalha
Quantos amores despedaçados pela insanidade atrativa
da mortalha
Ergo o punho e grito que não se misture o político com
o filósofo
Pois este procura humildemente a escondida verdade
E o outro o poder a fama a riqueza e a vaidade
Não se confunda a pessoa de bom médico com a de
excelente empresário
Pois na comunhão dos aflitos transforma-se o santo em
salafrário
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