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Veículos de contaminação

Foto: José Lorvão



A inquietação reivindicou o seu espaço num aglomerado de imundície
Acumulada pelos passos da indiferença vestida de impotência maníaca
Perante microrganismos saltitantes pela denúncia do atrito
De um pó fermentado em gretas de humidade estagnada negra como breu
Esperando a morte dos peixes e dos crustáceos no adiar das faxinas
Produzindo alimentos abundantes para o submundo das toxinas

Os venenos sorrateiros espraiam-se pelo chão dos inocentes
Perante a inaptidão decadente e a cegueira da ambição ardente
Transitando os autómatos pregados em estacas que persistem
Instruídos pela programação ferrugenta da preguiça fraudulenta
E do cansaço traiçoeiro perdido no leito gretado e seco
Do outrora límpido e cristalino ribeiro em submerso leito

Faltam-me as planícies trigueiras debaixo dos pés sonhos por realizar
E um corpo esquecido aguardando o pedagógico esquartilhar
Para quem pelo entusiasmo prosseguir estudos de anatomia e ficar
Um respirar vivido de um só grito de um espanto de um gemido
De uma dor imensa sem sentido permanente e sem essência
Nivelada pelo absurdo dos excessos da humana demência

Talvez na medicina e no bisturi escarafunchando entranhas
O meu esqueleto se justifique nas passadas rotineiras
Em cores agitadas de pânico no lado sombrio da vida
Pois tenho em mim a capacidade de entendimento de espírito que voa
De compreensão psicológica em jogos de alienação
Mas definitivamente algumas bofetadas deixam marcas de atordoamento
E o ser que em mim habita tudo alcança mas bichos hediondos jamais perdoa

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