Avançar para o conteúdo principal

O estrépito galopante do suicídio


 

Foto: José Lorvão
Foto: José Lorvão


A desesperança opressora cava sulcos no cérebro

Quando a depressão demoníaca queima neurónios

Perspetivando a guerra eletromagnética num subjetivismo sombrio

Pois só os delinquentes se aguentam no cenário austero

Porque desapareceu da face da terra o espírito do guerreiro

 

A estranheza do envolvente recorta faixas da manta negra

Entrançando a inaptidão de bem-querer que se afunda

No mar espesso e vertiginoso da exaustão

E a imperícia para sentir o respirar como dádiva

Provoca a queda abrupta e a asfixia do mundo interior

Que crepita como substituto do morrer lentamente em agonia

Perante um sabor metálico corrosivo do bater do coração

 

Não há como ultrapassar o horrível esquartejado do mundo

Instala-se a virose cruel da carência do amor próprio

Vazando os olhos e as veias de sangue derramado

A vontade do declínio sobrepõe-se à do existir

Em que monstros praticam  atrocidades sobre os humanos

Onde se deformam em engenhos sedutores navegando neste rio ácido

Arrastando homens mulheres e crianças em mau presságio

 

Quem sabe um voo sobre o precipício que despedaça os membros no impacto

Uma partida num comboio para destino longínquo sem regresso

Um punhal afiado cravado na carne ou uma arma de fogo carregada de morte

E os ansiolíticos e sedativos atordoando as ideias em subnutrição

Fica sempre a cena trágica entre o amor e o egoísmo

Neste acontecer sem filtros nem rede de apoio em constante colisão

Entre a coragem e a ambiguidade enfeitada da cobardia

Cegando-nos na corrente vertiginosa da autodestruição

 

Há uma trama encadeada obscura que aprisiona seres no mar oculto

Por entre tentáculos que levam à boca o veneno amargo contra a vida

Num mastigar devagar arquitetando o meio de exterminação

Agitando o prato escaldante em tenebroso atentado

E o objeto homicida empreende a viagem que se cola ao corpo

E se recusa a contemplar o doloroso e contínuo ritual de sofrimento

Sem ter para onde fugir sem lar sem afeto nem espaço nem tempo

 


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Inverno tenebroso

  Abraço o corpo enfraquecido pela turbulência dos lodaçais Que agoniza perante as chuvas que se evaporam em solos de mordaças e temporais Refugiando-se a mente num submundo sem escravatura Fervilhando a revolta perante a indiferença e chacota dos demais   O isolamento contorna cada curva do feminino Entontecido pelas cavalgaduras sem rosto Capta sementes de destruição Torrentes agressivas de desilusão E os sorrisos transformam-se em rasgos de bocas Onde dentes sem mácula se preparam para triturar e engolir as presas   A sofreguidão de mimos e bajulações é tanta que se escarra Para cima de quem se mantém afastado da mímica De adoração de mafarricos à solta Batendo asas como loucos mesmo sem poderem voar     Neste inverno as nuvens pousaram em campos contaminados Em pulmões doentes expostos ao inquinamento das viroses Em hepatites devoradoras de órgãos contaminados por sugadores de sangue Proliferaram nas chicotadas psicológicas da loucura No

Estado de calamidade

  Foto: José Lorvão Anunciam-se aos ventos catastróficos tempos espinhosos Interioriza-se que a verdadeira praga Aparece como bicho sem emoções humanas Que dá pelo nome de industrialização capitalista E como verme corrosivo vem-nos devorando o corpo e a alma Ao longo das cintilações de extermínio do passado e presente Que provocam flagelos cada vez mais mortíferos Numa plataforma escorregadia indiferente ambiciosa e calculista Triste maio que açaimas as bocas atabafando os prantos Eliminando sorrisos e expressões faciais milenárias Anulando a comunicação instintiva de quem capta um rosto por inteiro Endurecendo a inquietude das ignorantes práticas sanitárias O mundo atola-se na lama da precariedade da saúde pública A nutrição harmoniosa aparece como utopia Num povo sobrevivendo à míngua desdentado e contaminado Pelas más condições de vida sem vigor e educação Pois a ruína ecológica é fruto da insanidade Da paranoia dos ditadores e dos t

Carreiro íngreme

Foto: José Lorvão   Mastigam-se a custo os cardos feitos de contratempos e inseguranças Os prazeres sufocam cerrados no baú secreto em lugar incerto e pulveroso Abundância não vive no meu tempo de vida neste mundo Mas que carreiro é este que me magoa os membros de piso escabroso E ameaça a todo o instante a queda deslizando sem controlo até ao fundo   Os obstáculos que ultrapasso provocam a miscelânea da ruína E o triunfo que obtenho transita pela névoa em substância neutra Que me suaviza os dias persuadindo que sou ser sem idade Apenas um corrupio de vocalizações automáticas de ansiedades e esforços De subidas e descidas de escorregadelas e deslizes   Mas prossigo o ascendimento ignorando para que local me dirijo Este caminho íngreme de terra onde rolam pedras por entre buracos Provoca-me o cansaço asfixiante do calor do deserto por entre cacos   A mão que segura a minha é de alguém que conhece e ampara A minha dificuldade de locomoção em terreno esco