Avançar para o conteúdo principal

O desbotar fatal dos tecidos

 


O rasto açambarcador do puzzle higienizado cria fobias

Nos pormenores psicóticos de todo o gesto premeditado

Implodindo o cérebro pelos carrascos programado

Embirrando e defendendo que tudo o que é diferente é pecado

 

O medo que permanece até depois do sol posto

Desbota as cores as dores as raivas e os açaimes

Na impaciência provocadora de vertigem na criatura

Proliferando as máscaras asfixiantes tatuando os rostos

Abrindo rasgos exalando eflúvios na putrefeita textura

 

As olheiras sintetizam a repulsão de uma felicidade em fingimento

Na transparência da intolerância do meu interior sem contentamento

Flutuando sobre nuvens tentadoras de sonhos e diabruras

Pulando ritmada pelo solfejo incontrolável da impregnação

Esquivando-me à temperatura elevada do fogo posto

Dançando enleada pelo florescer belo da miscigenação

 

A fartura e a fome na decadência humana criam laivos de loucura

A lixivia que intoxica consome vírus e bactérias de todo o porte

A neura acomodada até à lua dentro de um foguetão cria fugas

Nas lesmas minhocas e sorrisos no estendal convulsivo da morte

 

As mãos envelhecidas pelos químicos corroem afetos

Sem uma vida com melhor fadário e abundância

Afundo-me na inevitabilidade suspensa na forca da velhice

Nem os cabelos brancos anunciando a pureza impedem

A lança perfurando as costas arrasando a fertilidade

Perante os voos percutores do abutre em golpe final no centro da crise

 


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Inverno tenebroso

  Abraço o corpo enfraquecido pela turbulência dos lodaçais Que agoniza perante as chuvas que se evaporam em solos de mordaças e temporais Refugiando-se a mente num submundo sem escravatura Fervilhando a revolta perante a indiferença e chacota dos demais   O isolamento contorna cada curva do feminino Entontecido pelas cavalgaduras sem rosto Capta sementes de destruição Torrentes agressivas de desilusão E os sorrisos transformam-se em rasgos de bocas Onde dentes sem mácula se preparam para triturar e engolir as presas   A sofreguidão de mimos e bajulações é tanta que se escarra Para cima de quem se mantém afastado da mímica De adoração de mafarricos à solta Batendo asas como loucos mesmo sem poderem voar     Neste inverno as nuvens pousaram em campos contaminados Em pulmões doentes expostos ao inquinamento das viroses Em hepatites devoradoras de órgãos contaminados por sugadores de sangue Proliferaram nas chicotadas psicológicas da loucura No

Estado de calamidade

  Foto: José Lorvão Anunciam-se aos ventos catastróficos tempos espinhosos Interioriza-se que a verdadeira praga Aparece como bicho sem emoções humanas Que dá pelo nome de industrialização capitalista E como verme corrosivo vem-nos devorando o corpo e a alma Ao longo das cintilações de extermínio do passado e presente Que provocam flagelos cada vez mais mortíferos Numa plataforma escorregadia indiferente ambiciosa e calculista Triste maio que açaimas as bocas atabafando os prantos Eliminando sorrisos e expressões faciais milenárias Anulando a comunicação instintiva de quem capta um rosto por inteiro Endurecendo a inquietude das ignorantes práticas sanitárias O mundo atola-se na lama da precariedade da saúde pública A nutrição harmoniosa aparece como utopia Num povo sobrevivendo à míngua desdentado e contaminado Pelas más condições de vida sem vigor e educação Pois a ruína ecológica é fruto da insanidade Da paranoia dos ditadores e dos t

Carreiro íngreme

Foto: José Lorvão   Mastigam-se a custo os cardos feitos de contratempos e inseguranças Os prazeres sufocam cerrados no baú secreto em lugar incerto e pulveroso Abundância não vive no meu tempo de vida neste mundo Mas que carreiro é este que me magoa os membros de piso escabroso E ameaça a todo o instante a queda deslizando sem controlo até ao fundo   Os obstáculos que ultrapasso provocam a miscelânea da ruína E o triunfo que obtenho transita pela névoa em substância neutra Que me suaviza os dias persuadindo que sou ser sem idade Apenas um corrupio de vocalizações automáticas de ansiedades e esforços De subidas e descidas de escorregadelas e deslizes   Mas prossigo o ascendimento ignorando para que local me dirijo Este caminho íngreme de terra onde rolam pedras por entre buracos Provoca-me o cansaço asfixiante do calor do deserto por entre cacos   A mão que segura a minha é de alguém que conhece e ampara A minha dificuldade de locomoção em terreno esco