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Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2020

Esfregaços

  Esgravato um tempo de cores suaves entre pinceladas abauladas Numa tela curva que reata o fim e o princípio qual carrocel Que volteia na feira animada de residências assombradas De templos despidos de paredes outrora caiadas Apenas conservando as doces e frescas fachadas com odor a mel   Desfaço-me em esfregaços informes de cor púrpura E ignoro tenazmente o sofrimento agudo que me invade o peito A estranheza que se aglutinou a mim em laivos delirantes Não sei se me afasta das intempéries incontroláveis do mundo aflito Ou se me retalha e empurra para a miscelânea insubmissa Que compõe o distorcido cosmo em espasmos contagiantes   Tranquei-me por dentro neste tempo obscuro de embaraço E empreendo a fuga para um mundo quântico num voo picado Que se repete no infinito tentando ultrapassar o portal do esquecimento  Contorno os caminhos migratórios das acrobacias fantasiosas Retorno ao grupo de crianças traquinas que nos ribeiros chapinham Colho os lír

Fluidos transformantes

  Amoleço nos fluidos transformantes qual lugar dos deuses Que se banqueteiam em frugal mastigação dos interstícios Em jogos de sadismo rindo e fazendo chacota da pequenez humana Não tenho em mim neste cenário de tolos nem sumo nem substância As teorias e as filosofias apagaram-se na curta lembrança Falhei acabrunhada nos testes labirínticos de lucidez Inevitavelmente as regras e programações foram apagadas de vez   As decisões acionaram bolas de bilhar que com força e direção Ampliaram os enredos de ténues tragédias em chama O insulamento imenso marinado em fermentos impregnados de suor e dor Por entre quedas abruptas empurrões para o vácuo E bofetadas geradoras do despertar para o poço profundo do horror E lá no alto como luz orientadora a fria lua sorria O sol apelava sofregamente à fantasia ignorando que flutuava sobre a lama   Um dia irei procurar-me nos algoritmos intoxicados de plataformas Contaminadas e desfolhadas pelas pétalas do irreal e

Náusea

  A sopa de nutrientes embala as ilhas bacterianas De gente perdida na soturnidade esquelética Na imensidão das planícies que me destronam Perante a imagem caótica da míngua em malga anorética Extravasando o alimento que se tornou veneno à solta Pela orla dos diamantes sem arvoredo Avidez saltitante em cavernas prisões de bulimia Os retóricos desmancham o puzzle acelerando no alcance das palavras Mas a débil memória devorou-as e delas se esqueceu Pela medíocre argumentação em laivos de picardia   A náusea instala-se nos estômagos dos solitários Enquanto a tagarelice abafa as ambições os sonhos as desilusões Pavoneiam-se as máscaras rendendo-se à dança de vírus camuflados Que encobrem as paranoias as raivas os medos e os sorrisos desmaiados   Os prazeres ficaram esquecidos num baú enferrujado no fundo do mar Ouvem-se os rasgos dos tecidos e o ritmo da tecedeira Embaraçando os fios sob a cantilena abafada do roncar do tear E o corpo revolta-se at

Questionar ininterrupto

  Foto: José Lorvão Transito do vale sequioso onde os extremos se alimentam de toques ávidos Dos infinitos trigais provocadores de quadros  de esperança  atapetados  Projetando em telas de azul a depressão de um povo esquecido Procurando refúgio citadino nas indústrias aberrantes e desumanizadas Proveniente das longas planícies onde o fardo aliviou O peso da existência abrandou mesmo furando galerias escanzeladas   Ressurjo da profundidade sanguínea de um aqueduto Que me forçou à metamorfose em criatura estranha E se espanta com o espaço rasgado estonteante misturando dicções E o corpo entre tempos desdobráveis que a mente retalha Derramando lágrimas sobre os campos em efusivas revelações Nas calçadas da aldeia e no bafo aceso do verão que escalda Quando o cântico de vozes humanas se espraia Dignamente se ergue num branco de pureza imaculada   Questiona-se a criança que não se identifica com as demais Que pela intuição assimila as frequências da prim