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Fluidos transformantes


 

Amoleço nos fluidos transformantes qual lugar dos deuses

Que se banqueteiam em frugal mastigação dos interstícios

Em jogos de sadismo rindo e fazendo chacota da pequenez humana

Não tenho em mim neste cenário de tolos nem sumo nem substância

As teorias e as filosofias apagaram-se na curta lembrança

Falhei acabrunhada nos testes labirínticos de lucidez

Inevitavelmente as regras e programações foram apagadas de vez

 

As decisões acionaram bolas de bilhar que com força e direção

Ampliaram os enredos de ténues tragédias em chama

O insulamento imenso marinado em fermentos impregnados de suor e dor

Por entre quedas abruptas empurrões para o vácuo

E bofetadas geradoras do despertar para o poço profundo do horror

E lá no alto como luz orientadora a fria lua sorria

O sol apelava sofregamente à fantasia ignorando que flutuava sobre a lama

 

Um dia irei procurar-me nos algoritmos intoxicados de plataformas

Contaminadas e desfolhadas pelas pétalas do irreal e real baralhadas

Não me reconhecerei pois os espelhos permanecem baços e invertidos

Desfazendo perspetivas moldadas pelas arestas e os ângulos

Dos arranha-céus de arquitetos ignorantes das iminentes derrocadas

 

Terei mordido os dedos e escavado a terra com eles procurando sementes extintas

A virtualidade das relações esbater-se-á na distância dos abrigos

Esperando no rio da apatia a demolição dos afetos

Seremos apenas um pó ténue suspenso nas montanhas em avalanches

Onde os ribeiros desapareceram perante olhares humanos perplexos

Perdendo-se na interrogação se alguma vez houve cânticos ao amor e amplexos


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