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Questionar ininterrupto


 

Foto: José Lorvão

Transito do vale sequioso onde os extremos se alimentam de toques ávidos

Dos infinitos trigais provocadores de quadros de esperança atapetados 

Projetando em telas de azul a depressão de um povo esquecido

Procurando refúgio citadino nas indústrias aberrantes e desumanizadas

Proveniente das longas planícies onde o fardo aliviou

O peso da existência abrandou mesmo furando galerias escanzeladas

 

Ressurjo da profundidade sanguínea de um aqueduto

Que me forçou à metamorfose em criatura estranha

E se espanta com o espaço rasgado estonteante misturando dicções

E o corpo entre tempos desdobráveis que a mente retalha

Derramando lágrimas sobre os campos em efusivas revelações

Nas calçadas da aldeia e no bafo aceso do verão que escalda

Quando o cântico de vozes humanas se espraia

Dignamente se ergue num branco de pureza imaculada

 

Questiona-se a criança que não se identifica com as demais

Que pela intuição assimila as frequências da primordial melodia

Que espírito é este que nasce livre e pelo acontecer traiçoeiro foi amarrado

Viajante solitário explorador de contágios e esquizofrenias

Cavalgando entidades de outras margens e incógnitas fidalguias

 

Este cerrar de olhos capta simultaneamente o tormento e a calmaria

Pois há uma irmã invisível que invade os recantos e me aquieta

E mesmo que as frestas das janelas assobiem exaltadas

Movimenta-se desfalecendo esta turbulenta e fausta ventania

Parece zangada de mistérios impregnada

Anuncia-me a pressa de concretizar sonhos

Porque cronos cria emboscadas e corta-me os pés e as mãos

Mordendo a minha  boca e rindo de mim pela calada


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