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Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2020

A tempestade e o nevoeiro

    O nevoeiro adensa as angústias nos estendais de roupa escura Húmida pela invasão de partículas de água sobrepostas nos contentores De viroses esganadas pela ânsia de penetração em espaço alheio Sem se importar com a leveza a densidade ou o meio Cego e sádico provoca o ocidente a queda o impacto a rutura O rasgo o corte o decepar o mutilar da imagem e da moldura   A neblina invisual pantomineira desliza como matéria informe Adotando vários rostos arquitetados  pelos caprichos da deusa mãe Que por entre floreados abraça o tempo e o musgo nos caminhos Saboreando as águas em harmoniosa sedução Que lhe brotam do ventre inventor de vida por múltiplos ninhos   Encerra o mistério da aranha fecundante de criaturas venenosas Qual esconderijo de amantes onde a paixão esvazia as necessidades De um espelho sempre presente ansiando quebrar-se em corrida acesa Para a liberdade estonteante de viver e morrer sem a nada estar presa   Armadilha disfarçada de te

Movimento perpétuo

  A revolta interior estonteante e em brasa empunhou a espada ao alto E preparou-se para debitar um discurso numa imprecação Ficou decidido que não obedeceria nem a reis nem a imperadores E muito menos a medíocres saídos da lama subalternos estupores   A insurreição assinou um pacto invisível com o conflito Mesmo de logística ausente sem armas e instrumentos de arremesso E vestindo-se de coragem planeou convicta submergir nas entranhas Viscosas e fedorentas do cérebro humano sem oxigénio   Qual cirurgiã alucinada mudar-lhe-ia a estrutura os compartimentos E na massa mole inventaria circuitos novos por sinapses cintilantes Para traçar mapas tatuados à prova de amnésia nos cornos das bestas Ultrapassando topologias agrestes vertiginosas e incongruentes   A sedição associou-se às mágoas com mossas profundas no coração E determinada construiu atualizados canais de comunicação Edificando galerias e programando estímulos no homem indolente Abanando neuró

Sobreviver ao inverno

                                                                Foto: José Lorvão Subir à superfície inspirando o primeiro oxigénio Emergindo na intermitência do afogamento no abismo oceânico Acompanhada pela dança dos peixes e da inquieta luz Retirar por momentos a máscara de proteção Para sentir o ar fresco nas vias respiratórias Contemplar as mãos ressequidas de unhas frágeis e quebradiças E requerer um passe para um mundo esterilizado Na ponta da varinha mágica do animador de feiras Suspenso nas nuvens brancas da ilusão   Permanecer num tempo e espaço só meu E espargir lágrimas salgadas de egoísmo Que servem de alimento ao motor de subsistência Impulsionada a desinfetantes que eliminam tudo Irritando as mucosas que sobrevoam os rios da vida Amordaçando o grito querendo soltar-se em irreverência   Repetir o ritual monótono penoso e solitário De combinação de alimentos que me explodem na boca Entre os artifícios viciantes do doce e amargo Entre

O sorriso por detrás da máscara

    Cintila um raio de luz no sorriso atrás das máscaras Contrariando o receio do descontrolo e insegurança Mesmo com o suor do rosto a escorrer sob o pano Permanece uma postura serena de apaziguamento e esperança Mas sentem-se dias azedos em que uns se queixam das eternas maleitas E outros desesperados imaginam-se a sufocar entubados num horror real Na cama solitária e desesperada de um hospital   Fala a entidade desnaturada sem destino sem origem sem guarda Prisioneira de mim invertendo hierarquias rasgando o livro Nos quarenta graus abafados de loucura fantasmagórica e pestilenta   Enquanto salta até à urna diminuta onde permanecem em descanso As cinzas do que resta do passado que outrora foi presente vivo   Os gestos de resiliência contrariam os incómodos pesadelos Mais agudos de alento faminto e incerto de inconsistência Persistentes as mãos húmidas insistem nos afagos na ajuda Na salvação de seres transmitindo coragem Mesmo sem meios sem ap