Avançar para o conteúdo principal

A tempestade e o nevoeiro

 


 

O nevoeiro adensa as angústias nos estendais de roupa escura

Húmida pela invasão de partículas de água sobrepostas nos contentores

De viroses esganadas pela ânsia de penetração em espaço alheio

Sem se importar com a leveza a densidade ou o meio

Cego e sádico provoca o ocidente a queda o impacto a rutura

O rasgo o corte o decepar o mutilar da imagem e da moldura

 

A neblina invisual pantomineira desliza como matéria informe

Adotando vários rostos arquitetados  pelos caprichos da deusa mãe

Que por entre floreados abraça o tempo e o musgo nos caminhos

Saboreando as águas em harmoniosa sedução

Que lhe brotam do ventre inventor de vida por múltiplos ninhos

 

Encerra o mistério da aranha fecundante de criaturas venenosas

Qual esconderijo de amantes onde a paixão esvazia as necessidades

De um espelho sempre presente ansiando quebrar-se em corrida acesa

Para a liberdade estonteante de viver e morrer sem a nada estar presa

 

Armadilha disfarçada de tesouros cintilantes que anseiam

Transbordar em orgasmos de obscuridades prazenteiras em modo lento

Origina lágrimas doloridas incontroladas pelas reminiscências

Flutuantes em plantações de saudades pelos trocadilhos do tempo

 

A tempestade ativa a mudança nos trilhos desérticos

Da ansiedade colorida com sabor a doces tâmaras

Adiando o beijo vermelho sobre o aveludado da pele

Fazendo renascer na boca sequiosa da palavra certa

Bagos de romãs esmagados pela língua inquieta

 

 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Inverno tenebroso

  Abraço o corpo enfraquecido pela turbulência dos lodaçais Que agoniza perante as chuvas que se evaporam em solos de mordaças e temporais Refugiando-se a mente num submundo sem escravatura Fervilhando a revolta perante a indiferença e chacota dos demais   O isolamento contorna cada curva do feminino Entontecido pelas cavalgaduras sem rosto Capta sementes de destruição Torrentes agressivas de desilusão E os sorrisos transformam-se em rasgos de bocas Onde dentes sem mácula se preparam para triturar e engolir as presas   A sofreguidão de mimos e bajulações é tanta que se escarra Para cima de quem se mantém afastado da mímica De adoração de mafarricos à solta Batendo asas como loucos mesmo sem poderem voar     Neste inverno as nuvens pousaram em campos contaminados Em pulmões doentes expostos ao inquinamento das viroses Em hepatites devoradoras de órgãos contaminados por sugadores de sangue Proliferaram nas chicotadas psicológicas da loucura No

Estado de calamidade

  Foto: José Lorvão Anunciam-se aos ventos catastróficos tempos espinhosos Interioriza-se que a verdadeira praga Aparece como bicho sem emoções humanas Que dá pelo nome de industrialização capitalista E como verme corrosivo vem-nos devorando o corpo e a alma Ao longo das cintilações de extermínio do passado e presente Que provocam flagelos cada vez mais mortíferos Numa plataforma escorregadia indiferente ambiciosa e calculista Triste maio que açaimas as bocas atabafando os prantos Eliminando sorrisos e expressões faciais milenárias Anulando a comunicação instintiva de quem capta um rosto por inteiro Endurecendo a inquietude das ignorantes práticas sanitárias O mundo atola-se na lama da precariedade da saúde pública A nutrição harmoniosa aparece como utopia Num povo sobrevivendo à míngua desdentado e contaminado Pelas más condições de vida sem vigor e educação Pois a ruína ecológica é fruto da insanidade Da paranoia dos ditadores e dos t

Carreiro íngreme

Foto: José Lorvão   Mastigam-se a custo os cardos feitos de contratempos e inseguranças Os prazeres sufocam cerrados no baú secreto em lugar incerto e pulveroso Abundância não vive no meu tempo de vida neste mundo Mas que carreiro é este que me magoa os membros de piso escabroso E ameaça a todo o instante a queda deslizando sem controlo até ao fundo   Os obstáculos que ultrapasso provocam a miscelânea da ruína E o triunfo que obtenho transita pela névoa em substância neutra Que me suaviza os dias persuadindo que sou ser sem idade Apenas um corrupio de vocalizações automáticas de ansiedades e esforços De subidas e descidas de escorregadelas e deslizes   Mas prossigo o ascendimento ignorando para que local me dirijo Este caminho íngreme de terra onde rolam pedras por entre buracos Provoca-me o cansaço asfixiante do calor do deserto por entre cacos   A mão que segura a minha é de alguém que conhece e ampara A minha dificuldade de locomoção em terreno esco