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A mostrar mensagens de julho, 2021

Mariposa

    A energia libidinosa ascende aos lugares mais inóspitos E enterra-se nas cavernas aguardando as criaturas desavindas Na miscelânea campal espremidas até à última gota de água Enquanto a borboleta deposita os ovos Na superfície abaulada das contradições Convencendo-se que o seu reinado chegara ao fim E que as partículas desgastadas Desligadas do entusiasmo Flutuariam por cima dos riachos Onde as rãs coaxavam procurando acasalamento   A mariposa faz agora amor com o silêncio das flores Que nascem no asfalto dos paradoxos Bloqueando a alegria e o riso Enquanto o oxigénio rarefeito enfraquece os pulmões Pela repetição da queda das folhas de outono Bloqueando a lucidez o amor e o siso   A criatura alada esquece os afagos os toques as harmonias Capta somente uma melodia repetitiva ao longe Como uma lengalenga que se dissolve na sonoridade inquieta do mar O auditório enfraqueceu pelo balbuciamento sem veemência Monótono e sarcástico envolto

Alentejo

    Alentejo que me vigias os passos Me trespassas o coração Me confundes com a coragem ou cobardia A rebeldia ou o perdão   Alentejo da infância irreverente e descalça Na calçada escaldante onde a estranheza do ser se esconde Calor abrasador que me queima a pele Convidando às brincadeiras na velha barragem Chapinhando no lago sagrado a suavizar a quente aragem   Alentejo da calma que se torna palco das vozes genuínas Das gentes com ligação à terra salpicada de canchos e lajedos Impregnações castelhanas onde as fronteiras se esbatem E as palavras se confundem na boca dos povos irmãos partilhando dores e segredos   Alentejo testemunha das lágrimas que lavam o rosto de suor e tristeza Que luta na solidão dos menires hirtos em direção ao sol e às estrelas Como se mantivessem o poder de fertilizar a terra E colocassem as crianças felizes sem carências a dançar com elas Por entre as antas que pululam pelo traçado da planície Sepulturas que home

A cuspidela

    O camelo do novo mundo cospe sobre a criatura que o enfrenta E espicaça no silêncio gélido de energias transitórias Julgando que é uma afronta e ameaça Mas o ser que o observa mantém apenas a boca calada   O mamífero ruminante mastiga o alimento e prolonga o processo Regurgitando as teorias e preconceitos E em todos descaradamente o majestoso põe defeitos   Animal de carga que não consegue disfarçar o seu aborrecimento Do alto do penhasco analisa as criaturas restantes no amontoado da carneirada Convicto que as fezes também podem transformar-se acionando outras alquimias E fazer do desperdício um autêntico alimento gerador de folias   Então explode em gestos de irritabilidade Uma chamada de alerta para a sua presença E para a sua delicada crença Então a cuspidela fedorenta Voa e cai certeira no alvo Pois que a imagem provocadora o atormenta E em mudez cortante e acusatória o enfrenta Espertalhão e não burro de carga Recusa-se ao transpo

A dança da avestruz

    A espampanante imitadora de pássaros pavoneia-se em esgares atarantados Vinga-se nas ramificações ágeis para desaparecer dos palcos de confronto Endiabrada revoga as perspetivas dos sonhos iniciadores de mudança Quadrúpedes assarapantados escoltam esta corredora que coitada não voa Viaja apenas presa ao deserto mergulhando o bico nos solos arenosos Engolindo pedras que lhe servem de dentes desfazendo alimentos Revolvem as entranhas coadjuvando a digestão num mundo de ansiosos   Assemelha-se aos camelos na sua sobrevivência sem água A avestruz amiga da onça tem sempre ouvidos vigilantes E a visão corta o espaço de outras animalidades em terreno resvaladiço Inquieta entre outros circuitos arriscando o choque elétrico Atacante excelente quanto menos se espera sai coice preciso   A águia aguarda as inundações de inverno depois da seca austera de verão Talvez então a poderosa e pesada criatura estonteante Desenterre a cabeça do chão e deixe cair a baç