Avançar para o conteúdo principal

O corpo

 


O aglomerado retesa-se pelas forças da desordem

Com o espirro a lançar-se furioso sobre a vidraça quebrada  

E o corpo deteta o perigo nas articulações em alerta

Selando fungos viroses alergias e psicoses

Esmagando o prazer na zona obscura e silente do ser

Insurgindo-se vociferando contra ruídos dos joguetes de lata


Circulando nas veias apertadas e esquizofrénicas da ganância

A urgência da crença nos valores humanos ficou adiada no passo das cavalgaduras

Enquanto pedagogos copiam estratégias ultrapassando traumas e subtil terrorismo

O corpo sonha o seu desagrilhoamento concebendo-se na sua identidade

Tentando construir ninhos de incógnitas na circularidade do parasitismo

 

O subjugado abjeto trespassado pela perturbação

Ensaia a deterioração pela insatisfação apurada em vácuo

Pois a igualdade humana é fictícia numa película de terror

E a não interferência testemunhando ocorrências destruidoras

É sinal de indiferença insensatez insensibilidade ignorância

Inexperiência de um acrescento nem objeto nem sujeito

Apenas apêndice que não se reconhece em substância

 

O vómito de uma construção quebradiça e passageira

Provoca a eliminação da experiência do vazio

Gerando o desenrolar da condição de perigo de um ego face ao detrito

Mas compensa o mal que faz pela liberdade de movimentos que trás

Conclui o argumentista de sofismas em acoplagem de risco com a fonte de poder

Perante a miopia atenuadora de pesares do testemunho em fase madura

Quando as baleias vêm morrer nas praias contaminadas pela loucura

 

O estado de alienação do corpo suaviza as humilhações

Instiga a ruína da sociabilização dos indivíduos

Mas os pássaros destruindo a tirania são reis sem grilhões

Não se regem por anilhas e decretos nem dúbias leis

O enredo faz desabrochar mesmo disfarçada a repulsão

Regurgitam-se cristais de gelo que se instalam nas artérias sem controlo 

E   como resíduo aguardam os solos da florestação



Comentários

Mensagens populares deste blogue

Inverno tenebroso

  Abraço o corpo enfraquecido pela turbulência dos lodaçais Que agoniza perante as chuvas que se evaporam em solos de mordaças e temporais Refugiando-se a mente num submundo sem escravatura Fervilhando a revolta perante a indiferença e chacota dos demais   O isolamento contorna cada curva do feminino Entontecido pelas cavalgaduras sem rosto Capta sementes de destruição Torrentes agressivas de desilusão E os sorrisos transformam-se em rasgos de bocas Onde dentes sem mácula se preparam para triturar e engolir as presas   A sofreguidão de mimos e bajulações é tanta que se escarra Para cima de quem se mantém afastado da mímica De adoração de mafarricos à solta Batendo asas como loucos mesmo sem poderem voar     Neste inverno as nuvens pousaram em campos contaminados Em pulmões doentes expostos ao inquinamento das viroses Em hepatites devoradoras de órgãos contaminados por sugadores de sangue Proliferaram nas chicotadas psico...

Equilíbrio

  Procuro equilíbrio no bico do prego revestido de ferrugem Perante as vergastadas invisíveis que me dilaceram A amígdala sobrecarregada com a invasão dos répteis Abrem-se os instintos escorrendo a ansiedade do corte Ondulando a depressão incontrolável massacrada pela visão da morte   Há um bloqueio em forma de choque que me trespassa a alma O respirar mecânico arrasta consigo os desgostos Enfeitados pela indiferença de quem perdeu a capacidade de sentir empatia Disfarçam-se os maus-tratos a hora certa Num trabalho austero em que a porta de saída está sempre aberta   A dubiedade é irmã gémea da falência A inquietação e esmorecimento acumulam-se Perante o cenário acabrunhado e cinzento onde floresce a indecência   O rebaixamento é executado com a frieza A depreciação provém do fundo do poço Onde as algas esfomeadas desejam o estrelato E as trepadeiras se enrolam aos nossos pés desejando a queda Em abalroamento do corpo e espír...

A sobreposição das cordas

Foto: José Lorvão O olhar surpreende a chuva para lá do portal húmido da vidraça Enquanto o estômago é enganado no engodo vertiginoso De uma simples carcaça Os dias repetem os ecos os risos os choros os gritos os abraços e os sorrisos Mas a memória elimina conteúdos de tóxicos recheios Em sobreposição das cordas que serviram para enforcamento E que no agora se transformam em oportunidades de recreio Caminho dentro de roupagens ensopadas e escalo palcos De horizontes em metamorfose inebriantes inalcançáveis sedutores Os sentidos fundem-se com explosões e colapsos Embaraços e desembaraços piruetas e saltos à vara E o corpo de que sou feita prega-me partidas rindo da incredulidade Como se por encantamento ou feitiço me considerasse ave rara Neste atalho por onde deslizo sopro apenas como vento sem norte Uma gota de água derramada no abismo do oceano onde me esvaio e mergulho O resto excedente de uma planície que serve de alimento às bestas A...