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Resistir

 

Foto: José Lorvão


A minha própria voz soa-me a desgaste

Não sou eu! Apenas um molde das marés

Um retrocesso mascarado num “déjà-vu”

Embrenhei-me no fluído de imprecisão ondulatório

E deixei-me conduzir pela corrente magnética

Controladora de pânico por entre o enredo sufocante

Num ambulatório cortante e desconcertado

A caneta apresenta-se agora nestes dias de ausências

Arremesso pesado estranho e ignorado

 

O azul claro do céu temporário tornou-se por instantes o meu alimento

E as árvores! Sempre as árvores companheiras de partilha

De trilhos sonoridades e gustações atenuando as dores do inferno

Perante a dança ininterrupta dos pássaros

E o sol que me aquece e aconchega neste final de novembro

Põe a descoberto igualmente toda a beleza e fealdade

No retorno ameaçador da pandemia com a invasão do Inverno

 

A mãe natureza assume a zanga e provoca ameaçadora

Tempestades e inundações, explosões vulcânicas

Lembrando ao convencido que tem controlo

Junto da segurança fictícia dos currais perante terramotos

E maremotos que subliminarmente murmuram

Ao pomposamente inserido na hierarquia cultural manipulador das emoções

Que o sublime e a futilidade não se misturam

 

O corpo e o espírito preparam-se para uma viagem de ansiado isolamento

Porque as casas permanecem trancadas

Dançam os elementos nos campos de oliveiras inundando o chão de frutos

Aguardando que o azeite retorne à candeia insurreto

Para iluminar a pobreza e o desespero

De quem é controlado por todas as brisas

Que tanto acariciam como sacodem

Os que vieram ao mundo sem saber a sua condição agitando o espectro

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