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Sociedade de autómatos

 

A globalização comunicativa exala um odor de embuste recheado de sorrisos

Os inocentes caem amedrontados e atónitos nas redes dos malabaristas de anéis

E trapezistas de longo curso alcançam as fragilidades alheias

Magicando enfeites e estratégias recheadas de emboscadas e paladares imprecisos

 

As galinhas juntam-se para cacarejar deixando os ovos e os pintos à sorte

Mas a raposa oportunista espreita com postura acrobata

Sedutora empreende conversa de circunstância e de focinho populista

Distribui beijos e abraços enquanto os dentes se aprontam

Para saborear a lustrosa refeição controlando os ignorantes em jogo fascista

 

É que num mundo de fantoches não há tempo para viver

Reagimos como se estivéssemos já mortos e os espasmos elétricos

Volteiam num surgir vertiginoso de cenas teatrais em palcos de combate

Distendendo os corpos cansados como últimos meneios humanos patéticos

 

Os galiformes tagarelam no tempo dos animais falantes em agudo polimento

Nas redes sociais viciadas na cacofonia vazia e na dependência das selfies

Pois poucos têm pachorra para contemplar energúmenos e bestas

De marketing afiado para derrubar os fracos de entendimento

 

Desfalecem os narcisos na ditadura dos festins ao alcance do teclado

A fama imaginária e paranoica lança a rede panorâmica em cenários irreais

Sobre bezerros seguidores vítimas da contabilidade das multinacionais

Perdendo-se na corrente de contrabando onde tudo se troca e vende

A alma e corpo e até os próprios filhos e mães 

 

A censura corta a fundo mesmo cega e macabra sem coração humano

É uma máquina maquiavélica que sorteia quem vive e quem morre

O algoritmo desliza como sensor travando a contenda dos astuciosos

Pois se há quem não tenha teto permanecendo na polvorosa da desilusão e do mal

Também existe quem não sabe o que fazer ao dinheiro adquirido por fraude fiscal

 

A liberdade encolhe-se nestes tempos de hipnose coletiva

O medo das palavras instala-se nas veias

E são substituídos por bonecos que riem e choram parabenizam e zangam-se

E no silêncio do desenho simbólico impõe-se a mordaça da língua

Que expõe as subtilezas e sentires do ser humano de locuções meladas

E sem nos darmos conta o automatismo instala-se na corrente sanguínea

Desconheço que espécie de humano sobressai do monitor aguardando o carrasco

Neste tempo em que o pavor se instala entre quatro paredes de solidão

E a linguagem permanece agrilhoada nas bocas caladas

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Foto: José Lorvão O olhar surpreende a chuva para lá do portal húmido da vidraça Enquanto o estômago é enganado no engodo vertiginoso De uma simples carcaça Os dias repetem os ecos os risos os choros os gritos os abraços e os sorrisos Mas a memória elimina conteúdos de tóxicos recheios Em sobreposição das cordas que serviram para enforcamento E que no agora se transformam em oportunidades de recreio Caminho dentro de roupagens ensopadas e escalo palcos De horizontes em metamorfose inebriantes inalcançáveis sedutores Os sentidos fundem-se com explosões e colapsos Embaraços e desembaraços piruetas e saltos à vara E o corpo de que sou feita prega-me partidas rindo da incredulidade Como se por encantamento ou feitiço me considerasse ave rara Neste atalho por onde deslizo sopro apenas como vento sem norte Uma gota de água derramada no abismo do oceano onde me esvaio e mergulho O resto excedente de uma planície que serve de alimento às bestas A

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