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A sonoridade inquieta das paredes


Foto: José Lorvão


As paredes choram traçando pinturas de aguarelas
No escorrer das gotas invasoras delineando selvas
Clareiras riachos rostos rasgos e magoadas mãos
Enquanto o núcleo terrestre abre infernos de galerias
Que aspiram a mudança e se unem ao flutuante chão

As palavras que os muros abafam deixam para trás
Fungos multicolores com tentáculos de acesso a novos céus
Onde as cúpulas são sustentadas pelas carícias hipnóticas do crepúsculo
Bordando vazantes para a rebentação das ondas
E para as grutas onde as criaturas descansam adormecidas
Aguardando a sinfonia híbrida das cigarras onde o longe se faz perto
E o voo vertiginoso da libelinha bastarda sobre os charcos gretados do deserto

Os esqueletos revoltam-se na descida ao ventre terrestre
Desagregando as células rainhas do conforto
Os dentes desintegram-se algures em nutrimentos de feras
E os peixes morrem no tanque por entre o musgo
Que invade a dimensão bolorenta das velhas articulações
Espera-se a cópula final do suave plexo
Melódico hino de amor retornando às estrelas num amplexo

As portas abrem-se para os catos sobreviventes
Enquanto os frutos secam nas árvores denunciando a metamorfose
E o sábio descansa finalmente depois da contenda
Adormece com um repartir de cartas de quem sabe distribuir o testemunho
E que em adeus indefinido baralha empreendendo noutra dimensão uma bonificada senda

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