Foto:José Lorvão |
- É o vosso aconchego que não me deixa partir
Segredas-me ao ouvido que já não és tu
Porque a energia se acumulou algures
Numa zona obscura do teu corpo
Por onde agora perpassam reminiscências quase
centenárias
Resplandecendo nas sinapses que vaticinam a
traição
Repetindo incansavelmente histórias de sobrevivência
Sempre adornadas por mortes prematuras
Que o trabalho austero e as contrariedades minaram
Experienciaste a morte de irmãos de pais da
companheira
E sabes que chegou a tua hora
Não acreditas em deus dominador
A tua inteligência dá um salto mais além
E assumes na tua intuição de alma velha
Outros nomes outros conceitos para o milagre da
vida
Sentes que a descrença e a tragédia
Foram as tuas amantes de viagem e se alguma força
há
Talvez seja um fantoche demoníaco que tira e dá
Que corta e cose que alimenta e destrói pela
penúria da fome
Nem mil teorias te convenceriam de que és especial
Tens consciência da tua pequenez e limites
Perante a grandiosidade das linhas cósmicas
Tal como és sábio soletrando o nome das
constelações
Que te habituaste a contemplar desde a infância
Nem a teoria da reencarnação
Nem a do céu e do inferno cabem na tua verdade
Acerca dos mistérios da existência
- Sabes!
É a vossa dedicação que me prende aqui!
Já não me reconheço!
O espelho dá-me uma imagem de alguém que já não
sou eu!
Continuas noite fora a repetir
Como se quisesses empreender o último voo
Na transição dos elos dos rebentos
Dos filhos dos netos
Mas há uma teia que te segura ainda muito ténue
Delicada sem apego a nada material
Mas imanando o amor do respirar da luz de presença
Que provocamos em teu redor e não deixamos que se
apague
Os que bailam à tua volta tocando o teu ser em
transformação
Com os sorrisos de aconchego e profundo louvor à
vida intemporal
O testemunho é de alegria comemoração e luta
Coragem altruísmo persistência e um amor
incondicional
Que tem raízes nas estrelas para lá do bem e do
mal!
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