Avançar para o conteúdo principal

O entrançar da memória




Soletro cada som inaudível tricotando o ventre
Que acalenta reminiscências de cascos e garras
Escamas pelos penugens e arremessos
Zumbindo em primitivas armas
Tateando cada saliência abertura cortante para o submundo
De flutuações inconstantes inacabadas em movimentos dançantes
Sem rostos nem esqueletos de palhaços rompantes
Respirando o desdobramento da couraça dos anfíbios
Onde serpenteiam as anacondas alimentando-se da constrição das fronteiras
E dos corpos empilhados que permanecem cadáveres indigestos
Desperdícios da raiva da ganância do ódio e da intemperança

Advenho expelida pela garganta inflamada em alta pressão
Deslizando por um escorrega de mil espinhos
Duma incontrolável escuridão inominável
Moldando as fraturas e hematomas
Onde criaturas radiantes criam circuitos de distração
Arriscando o mergulho em magmas ardentes
Quais mágicos sabedores dos truques todos de ilusão
Erguendo depósitos nas artérias latejantes
Sobre a monstruosidade atrevida e descarada
Envolvendo síncopes masturbatórias de sobrevivência translúcida
Enquanto as figuras humanas ardem em crematórios
Aguardando a sucessão dos elementos
Recriando espaços reproduzindo tempos
No regaço da consciência faminta do aparecer
E num lapso as mãos gretadas e inquietas deixam de tocar
Perante o pensamento que se afunda no esquecer!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A sobreposição das cordas

Foto: José Lorvão O olhar surpreende a chuva para lá do portal húmido da vidraça Enquanto o estômago é enganado no engodo vertiginoso De uma simples carcaça Os dias repetem os ecos os risos os choros os gritos os abraços e os sorrisos Mas a memória elimina conteúdos de tóxicos recheios Em sobreposição das cordas que serviram para enforcamento E que no agora se transformam em oportunidades de recreio Caminho dentro de roupagens ensopadas e escalo palcos De horizontes em metamorfose inebriantes inalcançáveis sedutores Os sentidos fundem-se com explosões e colapsos Embaraços e desembaraços piruetas e saltos à vara E o corpo de que sou feita prega-me partidas rindo da incredulidade Como se por encantamento ou feitiço me considerasse ave rara Neste atalho por onde deslizo sopro apenas como vento sem norte Uma gota de água derramada no abismo do oceano onde me esvaio e mergulho O resto excedente de uma planície que serve de alimento às bestas A

Inverno tenebroso

  Abraço o corpo enfraquecido pela turbulência dos lodaçais Que agoniza perante as chuvas que se evaporam em solos de mordaças e temporais Refugiando-se a mente num submundo sem escravatura Fervilhando a revolta perante a indiferença e chacota dos demais   O isolamento contorna cada curva do feminino Entontecido pelas cavalgaduras sem rosto Capta sementes de destruição Torrentes agressivas de desilusão E os sorrisos transformam-se em rasgos de bocas Onde dentes sem mácula se preparam para triturar e engolir as presas   A sofreguidão de mimos e bajulações é tanta que se escarra Para cima de quem se mantém afastado da mímica De adoração de mafarricos à solta Batendo asas como loucos mesmo sem poderem voar     Neste inverno as nuvens pousaram em campos contaminados Em pulmões doentes expostos ao inquinamento das viroses Em hepatites devoradoras de órgãos contaminados por sugadores de sangue Proliferaram nas chicotadas psicológicas da loucura No

Resistir

  Foto: José Lorvão A minha própria voz soa-me a desgaste Não sou eu! Apenas um molde das marés Um retrocesso mascarado num “déjà-vu” Embrenhei-me no fluído de imprecisão ondulatório E deixei-me conduzir pela corrente magnética Controladora de pânico por entre o enredo sufocante Num ambulatório cortante e desconcertado A caneta apresenta-se agora nestes dias de ausências Arremesso pesado estranho e ignorado   O azul claro do céu temporário tornou-se por instantes o meu alimento E as árvores! Sempre as árvores companheiras de partilha De trilhos sonoridades e gustações atenuando as dores do inferno Perante a dança ininterrupta dos pássaros E o sol que me aquece e aconchega neste final de novembro Põe a descoberto igualmente toda a beleza e fealdade No retorno ameaçador da pandemia com a invasão do Inverno   A mãe natureza assume a zanga e provoca ameaçadora Tempestades e inundações, explosões vulcânicas Lembrando ao convencido que tem controlo