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O caranguejo mensageiro

 

Foto: José Lorvão


O intruso desloca-se lentamente na minha direção

Estarei no leito ou em plataforma flutuante

Uma das garras da criatura vermelho amarelada sobe para o meu espaço

Não existem receios nem laços

Apenas surpresa de tão inusitado encontro

 

Estou vulnerável à geografia exterior que se dilui comigo

E nesta junção o crustáceo anuncia-me que existe um campo protetor

Talvez uma armadura em forma de garras

Que sacode para longe as energias obscuras

De um purgatório arquitetado na mente humana

 

Resiste a concha invisível à espera de ser quebrada

Para que a liberdade seja flor germinada em contra corrente

Sobre as pedras escaldantes da calçada

 

Ah intimidade paradisíaca onde foste tu cair

Para onde voaste invadida por intromissões cândidas

Incisivas sob ameaças à luzência de um amor integral

Na linha segregante do tempo algoz e amante

 

Viver o momento mesmo em sucessivas ausências e lonjuras

O dançar eterno do virar as costas até rebentar pelas costuras

Perante o animal que dá pelo nome de rivalidade e se esconde no âmago

Dos indecisos e enfermos em clausura como noviças freiras

Lacrados pela carência de meiguices ou simplesmente trancados

Na cápsula invisual e indiferente do egoísmo juvenil à solta

Nas costuras dos tecidos contaminados pelos uivos das alcateias

 

A turbulência psicológica constrói buracos de acesso a túneis

De velocidades abismais ansiando a arquitetura segura dos ninhos

Mas as sociedades humanas produzem ambíguos fuinhos

De odor insuportável afastando os demais da geografia partilhada

Erguendo pela topografia de todas as vilas pelourinhos

Onde aplaudem o estandarte dos degolados crucificados e mal-amados

 

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