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A intimidade dos anjos

 

Já não há tempo nem espaço para lançar o grito sem que estourem galáxias

Porque a ausência melódica mina a troca efetuosa de olhares

Perante uma concentração hipnótica egoísta e estagnada

Num sobe e desce enlouquecida presa ao chão e à cruz pregada

Enfeitada de cordas em nós cegos que dilaceram os desejos

De esquartilhar o fruto da anunciação pelos ensejos de luz

Numa pontaria suspensa em balizas desgastadas e transitórias

Ao desvendar esconderijos de parasitas sugadores de gastas memórias

 

Há uma praia gigante de sonhos adiados onde não há voos de gaivotas

Apenas um crematório à espreita na correria da multidão eleita

E a direção que se toma em piloto automático no rolar da estrada

Adia só por breves segundos o travão na cadência sem controle da desfeita

Brotando uma indiferença florida pelo capricho do ego em dança quebrada

 

Em modo de rumo às estrelas mesmo sem um centavo

Agitam-se promessas de fama num castelo esfarelado

Correm as ratazanas sobreviventes pelo submundo degolado

E a troco de trabalho escravo promete-se a riqueza

Que não evita nem a mortandade nem a vergonhosa pobreza

 

Que se destruam as laçadas cativeiros falsos amplexos

Que a fúria crie outras cidades sem amordaçar os homens

Que o entusiasmo se enfeite em desequilibrado deleite

Que o caos se instale na iluminura prenhe dos relâmpagos

E que germinem tubérculos descontaminados na intimidade dos anjos

Nos planaltos inacessíveis aos algozes que são milhões

Aos violadores de mulheres e carrascos ditadores

E que as crianças não necessitem de máscaras

Quando os abraços são atilhos de gargalhadas

Que perpetuam as acendalhas dos corações

 

 

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