Avançar para o conteúdo principal

Cenário rotativos

 





 

Estou perante um palco instável apodrecido pela força das marés sem intelecto

Bato palmas oscilo e dou largas ao brado esganiçado batendo sempre nas mesmas lengalengas

O pano clínico que me aprisiona o nariz e a boca impede-me de pensar o futuro com determinação

Agora tudo fica periclitante assistindo à decomposição dos sistemas

Nada é o que aparenta ser

Somos temporariamente donos de um líquido ácido que nos escorre pelas mãos

A doxa impera em todos os cantos como se fosse a imperatriz dos versículos absolutos

Só me resta mudar de estrado pois que a impotência em consertar madeira que range sob os meus pés tornou-se desastrosa

As paredes que sustêm o cenário estão prestes a desabar e o soterramento é repetição de tragédia pesarosa

 

Há palcos rotativos!

Mudemos de cenário!

O desejo de fuga daqui para ali ou talvez uma pirueta atlética dentro do meu ser

Que me expanda a visão e me dê meios de deteção de parasitas gabarolas

Ginastas contorcionistas malabaristas de saltos afamados suspensos em trapézios suicidas de argolas

  

Quero outro palco!

Talvez os bastidores as traseiras do edifício arrombado os corredores!

Prefiro o silêncio a confiança a rápida mudança

O meu corpo suplica-me que pare!

Que me retire para o recato sem conversas postiças palratórios de simulacros pandémicos para esconder o pânico

Sem investidas de protagonismos porque os tempos são de balbúrdia e confusão

Retiremo-nos para bem longe pois nas cidades em agonia

Fazem-se filas para alcançar o pão!

 

 

 

 

 

 

 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Inverno tenebroso

  Abraço o corpo enfraquecido pela turbulência dos lodaçais Que agoniza perante as chuvas que se evaporam em solos de mordaças e temporais Refugiando-se a mente num submundo sem escravatura Fervilhando a revolta perante a indiferença e chacota dos demais   O isolamento contorna cada curva do feminino Entontecido pelas cavalgaduras sem rosto Capta sementes de destruição Torrentes agressivas de desilusão E os sorrisos transformam-se em rasgos de bocas Onde dentes sem mácula se preparam para triturar e engolir as presas   A sofreguidão de mimos e bajulações é tanta que se escarra Para cima de quem se mantém afastado da mímica De adoração de mafarricos à solta Batendo asas como loucos mesmo sem poderem voar     Neste inverno as nuvens pousaram em campos contaminados Em pulmões doentes expostos ao inquinamento das viroses Em hepatites devoradoras de órgãos contaminados por sugadores de sangue Proliferaram nas chicotadas psicológicas da loucura No

Estado de calamidade

  Foto: José Lorvão Anunciam-se aos ventos catastróficos tempos espinhosos Interioriza-se que a verdadeira praga Aparece como bicho sem emoções humanas Que dá pelo nome de industrialização capitalista E como verme corrosivo vem-nos devorando o corpo e a alma Ao longo das cintilações de extermínio do passado e presente Que provocam flagelos cada vez mais mortíferos Numa plataforma escorregadia indiferente ambiciosa e calculista Triste maio que açaimas as bocas atabafando os prantos Eliminando sorrisos e expressões faciais milenárias Anulando a comunicação instintiva de quem capta um rosto por inteiro Endurecendo a inquietude das ignorantes práticas sanitárias O mundo atola-se na lama da precariedade da saúde pública A nutrição harmoniosa aparece como utopia Num povo sobrevivendo à míngua desdentado e contaminado Pelas más condições de vida sem vigor e educação Pois a ruína ecológica é fruto da insanidade Da paranoia dos ditadores e dos t

Carreiro íngreme

Foto: José Lorvão   Mastigam-se a custo os cardos feitos de contratempos e inseguranças Os prazeres sufocam cerrados no baú secreto em lugar incerto e pulveroso Abundância não vive no meu tempo de vida neste mundo Mas que carreiro é este que me magoa os membros de piso escabroso E ameaça a todo o instante a queda deslizando sem controlo até ao fundo   Os obstáculos que ultrapasso provocam a miscelânea da ruína E o triunfo que obtenho transita pela névoa em substância neutra Que me suaviza os dias persuadindo que sou ser sem idade Apenas um corrupio de vocalizações automáticas de ansiedades e esforços De subidas e descidas de escorregadelas e deslizes   Mas prossigo o ascendimento ignorando para que local me dirijo Este caminho íngreme de terra onde rolam pedras por entre buracos Provoca-me o cansaço asfixiante do calor do deserto por entre cacos   A mão que segura a minha é de alguém que conhece e ampara A minha dificuldade de locomoção em terreno esco