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Cenário rotativos

 





 

Estou perante um palco instável apodrecido pela força das marés sem intelecto

Bato palmas oscilo e dou largas ao brado esganiçado batendo sempre nas mesmas lengalengas

O pano clínico que me aprisiona o nariz e a boca impede-me de pensar o futuro com determinação

Agora tudo fica periclitante assistindo à decomposição dos sistemas

Nada é o que aparenta ser

Somos temporariamente donos de um líquido ácido que nos escorre pelas mãos

A doxa impera em todos os cantos como se fosse a imperatriz dos versículos absolutos

Só me resta mudar de estrado pois que a impotência em consertar madeira que range sob os meus pés tornou-se desastrosa

As paredes que sustêm o cenário estão prestes a desabar e o soterramento é repetição de tragédia pesarosa

 

Há palcos rotativos!

Mudemos de cenário!

O desejo de fuga daqui para ali ou talvez uma pirueta atlética dentro do meu ser

Que me expanda a visão e me dê meios de deteção de parasitas gabarolas

Ginastas contorcionistas malabaristas de saltos afamados suspensos em trapézios suicidas de argolas

  

Quero outro palco!

Talvez os bastidores as traseiras do edifício arrombado os corredores!

Prefiro o silêncio a confiança a rápida mudança

O meu corpo suplica-me que pare!

Que me retire para o recato sem conversas postiças palratórios de simulacros pandémicos para esconder o pânico

Sem investidas de protagonismos porque os tempos são de balbúrdia e confusão

Retiremo-nos para bem longe pois nas cidades em agonia

Fazem-se filas para alcançar o pão!

 

 

 

 

 

 

 

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