Num tempo fugidio em que
as algas flutuantes desaparecem da praia
E sofrem arrastamento
para a incógnita do alto mar
Uma lapa entre as lapas
decide aventurar o seu pouso
E um procedimento de
sobrevivência arriscar
A lapa fogosa entusiasta
e matreira ataca outras lapas
Requer para si todo o protagonismo
E carente de aplausos e estímulos
Baba-se perante as vénias da restante fauna marítima
Emite caretas para todos
os lados em subtil ameaça
Até a lula é seduzida
pela minúscula forma gelatinosa
Escondida sob a casca dura sem graça
Agarra-se à rocha mais perto pois que a força das
marés
É traiçoeira e pode arrastar embarcações
estilhaçando-lhe o costado
Murmura-lhe elogios e afaga-lhe o ego
Convencida que a rocha será sempre o seu porto de
abrigo
Beija-a de forma suculenta
Abraça-a com a viscosidade de um reptil
Defendendo os ovos prontos a eclodir
Este existir é de luas incertas perante o chuvisco
entremeado
De um oxigénio pelo magma intravenoso contaminado
Que queima as veias e evapora líquidos pestilentos
Transformando o viver numa massa cinzenta e seca
Entre a morte amarelenta e a vida cruenta
A maré agitada pela tempestade de sociedades sombrias
Em que uns são autómatos e outros querem folias
Desgasta a rocha pois o tempo infame
Desavergonhado esfomeado indiferente tudo come
E a pobre lapa esvai-se e perde a oportunidade da
consagração
De permanecer serena sem atritos e de se entregar à
honestidade
Sem manipulações sem artifícios
Apenas respirando a sua própria verdade
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