Traçou a aranha espevitada o seu próprio terreiro
E colocou-se frente ao auditório expectante tentando a
limpeza dos gazes imundos
Vaidosa e de aparência enganadora de dançarina diplomada
Não passou despercebida à feiticeira da tribo
Que lhe arrancou a mensagem vinda das profundezas dos
submundos
Sua formosura é inconstante cortante homicida
Qual camaleão invisível à solta por entre a multidão
A urdidora emproada da fortuna trás com ela as luzes gélidas
Da sabedoria abismal das placas tectónicas que moldam
fachadas
Para um gentio de rostos consternados pela sismologia traiçoeira
E o aranhiço não sabe se desce ou sobe em fatal
indecisão
As cartas da sorte estão lançadas e proliferam
caóticas as picadas
Bem que ela se esforça por injetar a ordem no cosmos
Mas é só no instante em que a teia fica perfeita
De fios entrelaçados atraindo vítimas retalhadas em
furor
A divindade decide quem tomba sobre o altar dos
sacrifícios
E quem sobrevive por uma fração de tempo para
contemplar o horror
Os recetores não decifraram os códigos das oito patas em suspensão
A rede sobrevém como arquitetura simulada do infinito
Enquanto a tecedeira dispõe os jogos os conflitos as
mágoas os gozos
Como grande mãe que se impõe no centro
Flutuando por entre a algazarra de vozes
Abafam-se os sussurros dos atores natalícios que se perderam
Nas reentrâncias dos mitos da criação
Distraídos que estavam a providenciar a sobrevivência e o sagrado pão
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