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Flatulência

Foto: José Lorvão



A flatulência enxertada na árvore esquelética
Criou expetativas de doces e amargos adiando o suplício
Da queda de frutos em abscisão enquanto dispneias se instalam
No coração crucificado em dormência de hibernações desajustadas
Por aberrações encantadas pelo fio condutor das caóticas rebentações
E pelos cromossomas dançantes do vira e retorna enche e entorna

As penugens aeróbicas volteiam por entre um pântano
A asfixiar as estrelas em metástases denunciadoras
Da hereditariedade em transformação em zonas asmáticas
Arquitetadas no soterramento das galerias das minas de ouro
Onde borbulha a hidrosfera à superfície contaminada
Por metabolismos silenciosos de ventosas preparadas
Para a investida em turbilhão de tempestade em forma de maremoto
Arrastando as criaturas na água barrenta e revoltada

Os decompositores aguardam o espreguiçar das vertentes sobreviventes
Os fungos brotam na humidade do odor da terra
E as bactérias alastram o seu espaço de poder sem mal nem bem
Por entre a amálgama do porvir do ter e do ser
Depois das sementes se resguardarem na dureza do invólucro
Que em estratégia paciente aguarda o amoroso envolvente
Que a regenera e germina em direção ao astro rei

Aguardam as pigmentações da exalação da vida
Perante o plâncton ondulante à deriva no mar
E o esconderijo rochoso da acrobática contorcionista lesma
Esperando a renovação das células
Em ritmos de orquestra carnívora alimentando-se do plasma

Os pássaros sobrevoam polinizações de cores garridas
Formas labirínticas trilhos sinuosos espreitando galináceos de aviário
Argamassas sombrias e ribeiros umbrosos onde a seleção natural se evaporou
Pois só sobrevive quem tem dinheiro e poder e nunca amou
E a simbiose faz-se pela venda do genuíno em prol do falsário



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