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Projetar a fuga

 

Foto: José Lorvão

Pressinto a criatura encurralada que se convence

Que silenciar sentimentos e opiniões cabe no cesto roto e ambíguo da sensatez

Entrevê aterrorizada a era das trevas, porém agora disfarçada

De uma claridade aparente que atinge o ponto de não retorno

E o apartamento de um ambiente recheado de ociosos sugadores de energia

É premente para manter o amor próprio e a lucidez sadia

 

A omissão dos nomes apregoa o desprendimento de falsas sonoridades

Este desapego anuncia o escape para a vida ao encontro da serenidade

O poder verbal faz indecoroso pacto com um malfadado campo de minas

Com a promiscuidade política e financeira onde se arquitetam armadilhas

E os vírus minam os corpos abrindo itinerários ditatoriais exibindo garras

Que esgaçam os pobres invisíveis na roleta da sorte dos possessores de vacinas

 

Espera-se o milagre no oratório enquanto os humanos mortos

Sucumbindo aos venenos disfarçados de nutrimento

Se amontoam em lista de espera em direção gelada para o crematório

 

Projeto a fuga!

Porque o amor que me preenche se tornou insuficiente

Para manter o bardo e o rebanho a salvo

O tempo escasseia e ainda quero acordar sorridente

Noutro cenário de verde ondulante sarapintado

De pequenos malmequeres brancos e onde a indiferença e a exaustão

Não sejam dissimuladas por fagulhações dançantes

E por adorações icónicas revestidas de fanatismo tribal

Perante o desfecho orientado para o distanciamento dos amantes   


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