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Que essência que demência?

Foto: José Lorvão



Borbulham fluidos amarelados acantonados na dimensão
Incomensuravelmente pequena do meu invólucro
Criando batalhas de desfloramento no interior da infinita existência
Em batimento cardíaco acelerado desfazendo o motor cansado
Perante um cérebro desfeito e em curto-circuito irado
Gozando com a falência da prova empírica que rasga as receitas precisas e estreitas

As mãos alisam os cumes as arestas o áspero dos caninos
As mordidas esfomeadas dos felinos
E perdem-se em prece na história limitada
Prisioneira de perspetivas mitológicas ensanguentadas

Agita-se o peito por entre beijos de lábios crispados denunciantes de mordaças
Contorcendo-se os membros pela noite com dores lacerantes
Deixando que a angústia existencial impulsione o desejo de tudo se esfumar
Com a certeza de que será para sempre o recomeçar
E neste ritual acabrunhado incerto impreciso amargurado mundano
Não se encontra razão que atenue o absurdo do humano

 Que essência que demência?
Que intempérie prolifera na mente na semente?
Que campo germinativo traz para a luz os rebentos da vida
Em reconstruções de arquétipos e rasgos de trapos
Abanando o trapézio na plataforma quebrável efémera e garrida
Desabrochando a dialética da negação em azedume eliminando teias
Sustendo naves na transpiração dos rios nas correntes oceânicas
Na desconstrução de viadutos lamacentos e estéreis
E nesta guerrilha pelo reconhecimento
Atropelam-se os fantoches do escravo e senhor
Pois são marionetas de um sistema implantado na cegueira
Mesmo disfarçando o hálito a morte que dá pelo nome de horror!

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