Amanhã abraçamo-nos!
Hoje não porque a derrocada que me prende ao chão
incute-me no rosto um mar tenebroso incapaz de se acalmar
Como se a fúria de várias tempestades criasse um furacão
arrasador de gestos humanos
Desmembrando rasgando cortando esmagando numa conjetura
há muito anunciada
Falam e não ouço pois na situação-limite decidem quem vive e quem morre num estalar de dedos
Em surdina permaneço hirta qual estátua que parou no
tempo
E num espaço em colapso fico esperando que o musgo e
os fungos me inundem em ferrugentos degredos
Amanhã beijamo-nos!
Hoje não porque este Abril trajado de rutura e afastamento
sem rumo nem aprumo
Fecha-se na robótica gritante e magro sustento
Abril clausura que alteia sangrento o encerramento de
uma inevitável sutura
E quando a energia se esgota pela indiferença de quem
nos encerra impiedosamente a porta
Enterra-nos em cubos de gelo de amargura
Amanhã dançaremos!
Hoje não porque fazemos também parte dos parasitas
sobre a terra
Pois unicamente contagiamos destruímos roubamos
Enchendo os egos gigantescos dos poderosos
E somos largados às feras longe dos que amamos
Basta!
A criança que chora de fome também tem a oportunidade
de viver
E o idoso que toda a vida produziu para um mundo lúcido
e melhor
Têm o direito que lhes seja devolvida a dignidade e o
amor que aos outros ofereceram
Hoje fica decidido que a poluição produzida pela
sociedade acaba
Que mais nenhum animal morrerá vítima de
comercialização macabra
E que no cume da pirâmide de valores não se encontrará
o dinheiro e o poder
Mas o sorriso feliz de uma criança guerreira de nome Futuro
ainda por nascer!
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