Estamos prisioneiros do estado de emergência
Onde se baralha o tempo sem alento
Com vigília a surgir de noite e o sono a agitar-se de
dia
Bem faz o gato de raça comum europeu aconchegando-se
ao sol
Estendendo-se preguiçoso no parapeito da janela
Comunicando o imperativo da meditação num fechar de
olhos
Sonhando na normalidade inquieta da claustrofobia
Vigiando-me os passos os suspiros e o sentir que tudo
tomba e asfixia
A gata siamesa salta-me para o colo e abraça-me os
cabelos
Roubo o livro que ficou esquecido na estante
E sorvo de um trago o rio de palavras denunciadoras de
um estado de coma
Que desperta para a vida em troca de outra alma que falece
esquecida
Ouvindo o ronronar desinteressado volto até mim e abarco
Um lugar de corpos em definhamento sem refúgio nem
sustento
Na contemporaneidade feita de ansiedades em insulações
silenciadas
Na rutura de beijos e abraços por entre lágrimas
dissimuladas
Os felinos serenos vêm deitar-se a meu lado como
guardiões
Do mundo subtil de impercetíveis contaminações
Que me escapa do campo de visão por entre os dedos
Perante o elevado e assustador batimento cardíaco
Que se cola ao peso terrífico no peito tatuado de
angústia
Então respiro fundo e aguardo os dias de solfejo
As ruas inundadas de coreografias sagradas de gente
que dança
E hasteia em forma renovada de prece finalmente entre sorrisos
O brilho do farol por entre o cinzento nevoeiro em
esperada aliança
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