Avançar para o conteúdo principal

Transmutações


Foto: José Lorvão


As moléculas deambulam traiçoeiras alargando o seu poder
Impregnado de potência maléfica rompendo barreiras no mundo humano
Perante saltos condicionados que anunciam a extinção da sociedade
Em contingente isolamento e uma carga explosiva no seio
Da seleção demográfica que derrapa na estatística anunciada

Na carência dos afetos criam-se rotas de colisão
Perante o estado de emergência que despe as nossas defesas
E as mãos tapam a boca abafando o grito em exaustão
Com a matemática desorientada na imprevisibilidade do lodaçal
No batimento desgovernado do nosso próprio coração
Encoberto pelo reator ao rubro da densidade populacional

Nos dicionários longe da fala dos indigentes
Nascem novas e pomposas palavras que baralho
E os erros ortográficos riem do meu desmazelo
Perante a onda de calor que me vulcaniza o corpo e a mente
Envolvendo indiferente a globalização que faz tiro ao alvo em diversão
De mutação rápida enquanto a memória permanece bloqueada

O esférico rola rebola salta desliza faz fintas
Sai de hospedeiro para outro num espirro em traçado zoonótico
Por entre a saliva em voo de transferência fatal
E o fantasma da pandemia olha-me sem vergonha fixamente
Procurando eu no enredo de amor uma luz em forma de sinal

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A sobreposição das cordas

Foto: José Lorvão O olhar surpreende a chuva para lá do portal húmido da vidraça Enquanto o estômago é enganado no engodo vertiginoso De uma simples carcaça Os dias repetem os ecos os risos os choros os gritos os abraços e os sorrisos Mas a memória elimina conteúdos de tóxicos recheios Em sobreposição das cordas que serviram para enforcamento E que no agora se transformam em oportunidades de recreio Caminho dentro de roupagens ensopadas e escalo palcos De horizontes em metamorfose inebriantes inalcançáveis sedutores Os sentidos fundem-se com explosões e colapsos Embaraços e desembaraços piruetas e saltos à vara E o corpo de que sou feita prega-me partidas rindo da incredulidade Como se por encantamento ou feitiço me considerasse ave rara Neste atalho por onde deslizo sopro apenas como vento sem norte Uma gota de água derramada no abismo do oceano onde me esvaio e mergulho O resto excedente de uma planície que serve de alimento às bestas A

Inverno tenebroso

  Abraço o corpo enfraquecido pela turbulência dos lodaçais Que agoniza perante as chuvas que se evaporam em solos de mordaças e temporais Refugiando-se a mente num submundo sem escravatura Fervilhando a revolta perante a indiferença e chacota dos demais   O isolamento contorna cada curva do feminino Entontecido pelas cavalgaduras sem rosto Capta sementes de destruição Torrentes agressivas de desilusão E os sorrisos transformam-se em rasgos de bocas Onde dentes sem mácula se preparam para triturar e engolir as presas   A sofreguidão de mimos e bajulações é tanta que se escarra Para cima de quem se mantém afastado da mímica De adoração de mafarricos à solta Batendo asas como loucos mesmo sem poderem voar     Neste inverno as nuvens pousaram em campos contaminados Em pulmões doentes expostos ao inquinamento das viroses Em hepatites devoradoras de órgãos contaminados por sugadores de sangue Proliferaram nas chicotadas psicológicas da loucura No

Resistir

  Foto: José Lorvão A minha própria voz soa-me a desgaste Não sou eu! Apenas um molde das marés Um retrocesso mascarado num “déjà-vu” Embrenhei-me no fluído de imprecisão ondulatório E deixei-me conduzir pela corrente magnética Controladora de pânico por entre o enredo sufocante Num ambulatório cortante e desconcertado A caneta apresenta-se agora nestes dias de ausências Arremesso pesado estranho e ignorado   O azul claro do céu temporário tornou-se por instantes o meu alimento E as árvores! Sempre as árvores companheiras de partilha De trilhos sonoridades e gustações atenuando as dores do inferno Perante a dança ininterrupta dos pássaros E o sol que me aquece e aconchega neste final de novembro Põe a descoberto igualmente toda a beleza e fealdade No retorno ameaçador da pandemia com a invasão do Inverno   A mãe natureza assume a zanga e provoca ameaçadora Tempestades e inundações, explosões vulcânicas Lembrando ao convencido que tem controlo