A emergência da catástrofe resgata anónimos sem ninho
Soterrando cadáveres em ilhas vazias assombradas
Onde a putrefação excedeu a sobrevivência no
esquecimento dos nomes
E as lágrimas de insónias perderam o sal nas masmorras
da crueza social
No desencanto indiferente em intermitências de desamor
Os corpos escondem-se no escuro amordaçado dos
cubículos
E na fluorescência hipnótica espertina dos ecrãs
inundados de suor
Os olhos cansados contemplam um sol radiante e
aconchegante
Acalentando cérebros e corações esperançados num mundo
de esplendor
Lábios fissurados sangrando anunciam o caos pandémico
De um planeta estático esperando em vigília a
descontaminação
Enquanto os suicidas regressam à proteção falsa do
útero materno
Transferindo o salto para lá da percecionada dimensão
Loucas baratas que rastejam no lixo sem cabeça
Escarafunchando sobre a pigmentação dos rostos
despertos
Selados pelo temor da desmoralização das famílias
Desfeitas pela agitação silenciosa das chuvas ácidas
em rios incertos
O veneno alastra queimando e desfazendo alvéolos
pulmonares
Abafando os bramidos estrídulos da calamidade
Os fungos nas vidraças conspurcadas toldam a visão
Desenham esgares em planos arquitetados no desterro
permitido
Germinam as madrastas nos muros corrosivos das
fronteiras
Gozando libidinosamente com as valas comuns
Em cenários macabros de barbaridade compondo pútridas
fileiras
As inseguranças produzem psicoses pintadas de alarmismos
Até as gaivotas se ausentaram das praias desertas
Onde o cloro da insanidade destrói a fauna e a flora
Apenas os pombos insistem em debicar o nada
Sobrevoando as ervas daninhas oprimindo a relva
Por entre o germinar de milhares de sementes
Repetindo o ciclo absurdo do mistério da potência ao
ato
Em jardins abandonados onde o tempo parou
E os padrastos tresloucados homicidas atingem o alvo
Mesmo aqueles que fogem à salsada do pavor
E que o realizador macabro e supremo da película
fúnebre crucificou
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