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O compasso indiferente da morte




O contar dos dias é semelhante ao tilintar das pedras imóveis e silenciosas
Ao cheiro intenso da vegetação alastrando entre o odor envolvente da terra
Aguardando os corpos incógnitos nas valas poeirentas desocupadas
Quais sementes aguardando famintas o suave esplendor da lua
Ávidas da rega sagrada do sol quente para lá das queimadas
No compasso cego e desapegado da morte hirta gelada e nua

Os canídeos ansiosos que ladram aos aromas contaminados no final da tarde
Prolongam os ecos materializados na saliva estonteante do incómodo
Pelo regresso sobressaltado dos roncos estridentes dos motores em riste
Enlaçando velocidades adolescentes provocando o trânsito soalheiro em despiste

A construção em madeira ergue-se vertiginosamente profetizando o fogo
Qual catedral contemporânea frágil anunciando o provisório
Na transição inflamada das horas santas livres de todos os males
Enquanto a mensagem se perde na interferência das ondas hertzianas
Ocultando-se na longa espera dos afogados sustendo a respiração
E saltando em ânsia de sobrevivência para a última embarcação
Flutuando em sinuosidades de fragilidade ao largo do incerto promontório

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