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O vigilante




A energia sobranceira às almas agitou em sopro as folhas
Sobre as cabeças esgotadas pelo destemperamento das batalhas
Ardilosamente desenhadas pelos capitães dos campos de morte
Então o vigilante qual câmara ecuménica capta a imobilidade num leito
Antecipando a cena cinematográfica saltando cenários afastando o perfeito
Denunciando o esgotamento acelerado dos órgãos
Sem viagem paradisíaca nem sonhos nem belas paragens
Deixa-se fotografar somente a cena trágica pelo olho artificial
Apenas traindo a vontade de viver por entre múltiplas linguagens

O desvelado abraçou os caídos e o progenitor
Adormecido inerte pelas teias venenosas do tempo
Cerceou-lhe a fome abrindo-lhe a boca aconchegando-o
Atenuando-lhe a ansiedade limpou o corpo cambaleante
Aprisionado impotente entre a luz e a escuridão
Enquanto a respiração ensaia melodias de despedida
Em nervuras sombreadas estancando a deglutição
Estratégia lúgubre que atenua o processo de retorno ao avesso
Para quem os passos trôpegos se perdem sem direção precisa
E para quem permanece enfrenta a dúvida e a face cadavérica indecisa

O vigilante arrasta consigo os grilhões do sentido do dever
Imiscuído de uma misericórdia universal
Acalmando os tremores incontidos em epilepsias adiadas
Alargando balouços de contrações em sussurros de socorro
Nas convulsões suturadas em divindades ultrapassadas
Sintonizadas com o devir nas prisões sem resposta nem crenças
Apenas interrogações ininterruptas qual patologia
Dando soltura a infinitas presenças

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