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A gorja profunda da existência

Foto: José Lorvão



O resvalar no vórtice alucinante da existência
Cria serpentinas feiticeiras na irrequietude das hélices
Pelas trocas múltiplas dos pares dançarinos
Enquanto embaraço o fio que sustém as possibilidades
Corrigindo os códigos suspensos nas fragmentações estelares
Por entre o abrir de bocas nutridas pelo deslizar das improbabilidades

No rodopio do tempo apareço como rasgo de tensão
Balouço cambaleante em gestação equilibrista de profissão
Surjo num arrastar sem pouso nem forma
Membros desnorteados mãos trementes na inconstância da transmutação
Um archote aguardando iluminação sem norma
Fala entaramelada palavra salteada respiração assaltada
Trocadilhos sem coerência pulando em mente agitada

Batuca a convulsão na mensagem incompleta
Testemunho interrompido pela gravidade
Desfalque sem juízo corpo pesado
Cântico improvisado elemento embalado
Alimento de fungos revoltados sem chão nem telhado
Bactéria faminta cegueira indistinta
Amnésia gelada e cruel sem diagnóstico
Raio impreciso amolgando a clorofila
Lançador de sementes recolhendo as boas e as dementes
Caçador estético de plâncton flutuante na deriva das embarcações
Foice cortante sobre as bestas periféricas que se alimentam de instigações
No cenário em mudança permaneço o pó do caminho sem direção
Acidez gástrica rinite alérgica refluxo exaustão
Palhaço aprumado submerso na própria indigestão

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