Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de 2019

Flashes de lucidez

  Foto: José Lorvão Os corpos mutilados acompanham a mecânica terrestre Variada e agreste perante os empurrões em osmose Que degeneram em acelerações incontroladas Causadoras de embates em ascensão de miragens Enquanto pontos minúsculos se debatem pensativos Na corrente de força bruta e indiferente Aos cortes profundos da animalidade em metamorfose O fogo explode sobre a velocidade da passarada Que sobrevoa as catástrofes inevitáveis Por entre flutuadores de fornalhas acesas Enquanto os bailarinos empreendem as piruetas estonteantes Contrariando o magnetismo da terra que alterada Põe a nu as suas feridas rasgadas e suturadas A hidrostática falseia as ondulações dos cetáceos Que dão à costa aproveitando as correntes termodinâmicas Em ascensão de improviso onde os desperdícios flutuam em mictórios Enganadores de magnetismos armadilhados pelos circuitos humanos Geradores de desastres em refração onde os mares côncavos Devoram as embarcaçõe

O espírito vingativo da serpente

Foto: José Lorvão Astucioso o reptil aprumou-se para ferrar as mandíbulas Lançando o jato virulento na oportunidade que surgia ali à mão Manipulando os cordéis suspensos sobre os peitos mirrados dos defuntos Acumulando poder e delírios de reconhecimento em baba solta e laganhosa Rastejando o ser narcísico e escamoso embevecido pelo sombreado que deixa no chão A sonoridade que envolve a serpente estruge nos outros surda e maldosa Indiferente egoísta defrauda planos no seu esconderijo ansiosa Crucificando mentes inativas amedrontadas com a míngua Enquanto favoritismos constroem projetos de podridão inacabados Culpando o espírito retaliativo da serpente os adjuntos desmazelados Sem que dês conta reptil nojento há uma rapinadora que te vigia do alto Acompanha-te os traços que deixas no descampado seco e amargurado Conhece o teu covil nauseabundo onde se reproduzem as criaturas à tua imagem Espírito de devaneios irrealista produtor de espetáculos de i

Aranha suspensa no centro do palco

  Foto: José Lorvão Traçou a aranha espevitada o seu próprio terreiro E colocou-se frente ao auditório expectante tentando a limpeza dos gazes imundos Vaidosa e de aparência enganadora de dançarina diplomada Não passou despercebida à feiticeira da tribo Que lhe arrancou a mensagem vinda das profundezas dos submundos Sua formosura é inconstante cortante homicida Qual camaleão invisível à solta por entre a multidão A urdidora emproada da fortuna trás com ela as luzes gélidas Da sabedoria abismal das placas tectónicas que moldam fachadas Para um gentio de rostos consternados pela sismologia traiçoeira E o aranhiço não sabe se desce ou sobe em fatal indecisão As cartas da sorte estão lançadas e proliferam caóticas as picadas Bem que ela se esforça por injetar a ordem no cosmos Mas é só no instante em que a teia fica perfeita De fios entrelaçados atraindo vítimas retalhadas em furor A divindade decide quem tomba sobre o altar dos sacrifícios E q

Flatulência

Foto: José Lorvão A flatulência enxertada na árvore esquelética Criou expetativas de doces e amargos adiando o suplício Da queda de frutos em abscisão enquanto dispneias se instalam No coração crucificado em dormência de hibernações desajustadas Por aberrações encantadas pelo fio condutor das caóticas rebentações E pelos cromossomas dançantes do vira e retorna enche e entorna As penugens aeróbicas volteiam por entre um pântano A asfixiar as estrelas em metástases denunciadoras Da hereditariedade em transformação em zonas asmáticas Arquitetadas no soterramento das galerias das minas de ouro Onde borbulha a hidrosfera à superfície contaminada Por metabolismos silenciosos de ventosas preparadas Para a investida em turbilhão de tempestade em forma de maremoto Arrastando as criaturas na água barrenta e revoltada Os decompositores aguardam o espreguiçar das vertentes sobreviventes Os fungos brotam na humidade do odor da terra E as bactérias alast

As cartas perdidas do baralho

Foto: José Lorvão O ponta afiada do lápis rasga o papel Amaldiçoando as armadilhas escondidas Na distensão das lâminas perfuradoras de fronteiras estagnadas Anuncia a rutura canalizada de protões em raivas incontidas Pula no centro do rodopio de luz e sombra num palco virtual Perante a visão turva dos incertos voos castrados Ilumina o espaço sideral dos gazes em volteio infernal As manchas bordadas na pele translúcida pigmentada Fazem pacto com as veias penetrando as cavidades do corpo sobrevivente Embrulham a mensagem aquecida em vinho morno De declínio mascarado de risos e gozos Num livro de ponto riscado a bisturi E desaparece pela fresta das paredes e corredores enleados Pelos grilhões enferrujados e arrastados na caverna ancestral Onde o bem não tem significado e é rei o sádico mal As cartas perdidas do baralho assentam nas lajes desmaiadas De outros jogos sujos de vida e morte E as horas e os minutos que se repetem na síncope huma

Embarcação

Vibro na inquietação das unhas esgarçadas de quem boceja sem vintém No colapso vertiginoso da vida num inconstante salto à vara Que para não definhar empreende as correrias do desastre e nunca se detém A embarcação é una como um emaranhado de tentáculos de informação Em que não há fronteiras nem muralhas nem canais de laqueação Pois os caminhos retornam sempre à matriz da engenharia embrionária Açoitada pelas galerias de fogo que esfriam petrificando o ovo Na temporalidade prisioneira de dissimulação da fama Que se dilui na poça de água colada ao pesadelo debaixo da cama No entrançado das janelas do corpo dilatado e sangrando Espreita-se o branco puro de outros aranhiços Marchando em carris de lava vertendo-se no mar revolto Em múltiplas flutuações de dinamismos cortantes Na amalgama leitosa e gelatinosa de seres rastejantes Porque tudo o resto no coração da Terra anda à mercê da obscuridade Nos esconderijos dos bolsos cravejados de tesouros

Transações de alta velocidade

Baila a timocracia por cima das cabeças dos nascidos por engano Colando-se à psicose coletiva da robótica humana inativa Enquanto as artes vertem sangue na ambiguidade dos dejetos E a savana guarda os vírus em bolha explosiva esperando transporte Para a noite gélida que se adivinha no bolbo raquidiano dos mamíferos Que em retirada se refugiam no subsolo em grutas demenciais Porque o humano adquiriu novo significado Transforma-se em besta à solta E empreende o genocídio desacreditando no amor Rasgando a confiança erguendo a instalação estratégica da banca rota Ergue-se nas trincheiras um mercado que serve o amontoado de parasitas Que apenas exploram tronos sem darem nada em troca Sorvendo o trabalho árduo dos que transitam na base da pirâmide A inteligência artificial impõe-se do alto dos arranha-céus perante plateia morta Em orgasmos de luxo desenvergonhado rindo e gozando da humana escravidão Perante os abutres que esvoaçam por céus obscuros

Corais de betão

Foto: José Lorvão Assomam bigornas nos túneis minados das cidades No escalar das nuvens de algodão amargo de ambiente ácido e hostil Enquanto os anfíbios criam cenários de engodo e diversão Que originam fobias nos autómatos invisuais manipulados em rédea curta Onde só a energia das estrelas poderá alterar o rumo contaminador de corais de betão Caem por terra as tentativas dos jardins suspensos e as hortas nas alturas O refúgio nas montanhas é austero mas serve de barreira Aos parasitas de ventosas açambarcadoras De flutuantes embarcações em eras de inundações Estão mortos os gigantones corais de betão O rendilhado das ruas e os atropelamentos geram o pânico e o embaraço Os pelintras usam esquemas saltando por entre teias umbrosas Vivem de astúcias argumentativas paupérrimas e sem ética Vendendo e matando os da sua própria estirpe com pontiagudo aço Nasceram dos cornos de um deus falsário Mágico sarcástico de fedorenta gastronomia Assinand

Tempo para respirar

Emudeço no fechamento ao ruído e histerismo E mergulho na contemplação dos traços das palmas das mãos Tentando adivinhar onde na minha existência errei Perante a insatisfação o espanto a queda Para que poços infinitamente profundos me atirei Estendo os membros tateando o insondável nesta neblina cerrada Provocadora de tragédias em vereda acidentada Onde me falta tempo para respirar por entre os pingos de chuva De percorrer descalça a praia deserta em neblina difusa Chapinhar na água salgada e transformar em glória esta paragem incerta Esquivo-me por entre os abraços e construo labirintos de estonteamentos Que cegam desfazendo laços e cortando códigos entre amantes Quando a solidão retorna na ausência dos pactos Onde pincelo eternamente as telas transparentes do sobressalto Fecho as distâncias do amor em movimento de hélice Atraindo vendavais tépidos bordados a sonoridades murmurantes Sobrevoo topografias de azul e branco Enquanto o

A melodia das rosas

Foto:José Lorvão A escuridão inventa melodias táteis sem língua nem expressão Perante um corpo que se perde num aperto esbanjado em interstícios estelares Surgem ramos floridos de onomatopeias que esvoaçam sobre as gargalhadas dos puros Mas logo o inesperado alérgico brota em jorro do sagrado chão O pingo de água na folha de papel e o inverso das vozes gera um código ancestral Onde se confundem o veludo das pétalas e das aranhas Como se fosse guardião disfarçado camaleão de um alto portal A caneta roubada deslizando sub-reptícia e cambaleante até à saída Que é também histerismo sem entrada por entre a multiplicação das cores E a dependência psicótica em cinematografia dos horrores Quebram-se as sílabas desengonçadas da rutura O ruído o perigo as pétalas amachucadas A decomposição do cordão umbilical as estirpes rachando O acordar em plena floresta sem cerimonial Onde os rastejantes arrepiam e os fungos vermelhos encantam envenenando Beija

Beco sem saída

Abasteço-me de coragem e empreendo um caminho sem retorno Furto-me à baioneta certeira ao peito E enfado-me pela neura dos gestos Em eterna fastidiosa e penosa repetição Na secura das gargantas sem testemunho nem afetos A ansiedade em chamas vomita a palavra E no beco sem saída empreende o trepar pelas paredes Por entre saltos de vedação dilacerando a carne Perante acústicas berrantes de chiadeira das dobradiças Crepitando a melodia peganhosa das crucificações fascistas Enquanto o entusiasmo ténue e quebradiço Cria a transpiração do cansaço do rasgo do enguiço O estendal contaminado pela poalha na betesga armadilhada Avisa-nos do afundamento dos canais de escoamento Nas galerias milenares mudas e ensopadas Onde o oxigénio rarefeito bloqueia os pulmões Do gato vadio que traz consigo um coração negro gravado no costado Como se este fosse uma anunciação justificada de sangramento De um hipotético amor rasurado em corte profundo de maleitas

O alastramento dos insetos

As árvores acordam perante a revolta das abelhas Quando a picada em forma de porrada Anuncia os campos de fogo onde escarafuncham centelhas A contaminação das terras As sementes em transformação Comprimem o esfregaço o embaraço O enriquecimento a contrafação O fervilhar químico dos mares A palhaçada o nada O estampido preciso no desfalecimento dos lares A flutuação das lixeiras a peçonha a vergonha A putrefação dos currais volteia em eterno retorno Vomitados pela serpente do engodo do esgoto O cheiro cinzento da borracha no asfalto A inundação das ervas trepadeiras Apagando os hieróglifos do aviso da catástrofe As pedras milenares talhadas Ao abandono das searas e a destruição das videiras Os algoritmos instalaram-se pomposos Nas linhas magnéticas do sol e nas vias rápidas virtuais Nos túneis elétricos das equações matemáticas Decidindo em ignorância total o fuzilamento Escondem-se o juiz e a lei nas meias verdades em estrangula

Boneca de porcelana

Aparece no palco artificial em movimentos de sorriso genuíno Enganando o pagode com o seu palavreado subtil Degustado há milhares de anos por aprendizagem e competências de extermínio Entrelaçadas com cenas de amor e ódio de sofista Que vende o caixão de ouro ao futuro morto Empreendendo discurso rasteiro vacilante e torto Move-se a boneca de porcelana no meio adjacente À miséria dos casebres e aos dejetos de rua Pois quer aplausos protagonismo e o bolso sempre recheado Pelos cartões maravilha que acumulam valores de troca Aglomerando hienas que lhe seguem as pisadas Denotando azedume na dança das palavras falaciosas De quem passa a vida a viver na sua fortaleza de tiro ao alvo Do alto da torre derrubando o pateta idiota mono Que também anseia por bilhetes de visita aos cofres ocultos Como código de acesso ao poder e ao trono Bom seria se todos fossem para bem longe e sem vintém Caberiam todos no mesmo trem Seguiriam a boneca de porcelana

Rede de pesca

Foto:  José Lorvão Comprime-se a rede de pesca dobrada cuidadosamente dentro de uma arca À espera que outras vontades lhe deem serventia Pois a tarrafa lançou-se incontáveis vezes ao rio e aos charcos profundos Onde outrora as lontras saboreavam os esconderijos Por entre malabarismos líquidos em tornados de espeleologia Estão gravados no entrançado da rede os gritos pelo sustento Sonoridades e danças que me circundam em rodopio qual asas planando Pelos interstícios das velocidades capturando choros de crianças despidas de roupas e nutrimento Enquanto membros frágeis mergulham na água gelada da zona raiana em pleno inverno Quero envolver-me e cortar a rede como uma coberta de laçadas Transformando o horror da míngua em delírio de fadas Bordadeiras de rituais de vida que por magia Transformam a fome em sorrisos e cintilações de manobras aladas Onde os cágados e os sapos as serpentes e os lagartos As raposas e os lobos beberiam da mesma nascente E

A sustentação das águas

  Foto: José Lorvão Meu corpo avança nas águas vibrantes pelo remoinho de vento Levantando o areal em vórtices de instável desalento E a solidão que me dá o nome cria enredos e flutuações Transparências arrepios disfunções com que me acalento Em mar salgado que me massaja os músculos do desapego Retorce-se o gelo no recorte da enseada Pela fortificação denunciadora de pavores abaulada Estratagemas de defesa perante desavindos de atalaia Em batéis de corsários distribuindo o lucro e o poderio Em tempos esquecidos pelas correntes enleadas de Maia Volteio abraçada pela sustentação das frias águas Como criatura sem rosto na invisibilidade da indiferença Sem refúgio onde adormecer as dores obtusas Do retorcer sádico das fraturas cravadas em espetos Amanhecendo em lugar nenhum no desconfigurar dos esqueletos Só a foz do rio prateado me orienta os movimentos Me alerta me vigia me empurra e me absorve os pensamentos Me embala me rasga as forç

Escrevo no pó

  Foto: José Lorvão O pó acumula-se indolente na formatação dos utensílios Ultrapassados pelo bolor dos séculos Enquanto criaturas se esbatem por entre as incisuras de um tempo selado Que venham as lavas e os fogos para reduzirem a cinza A estranheza dos artifícios plastificados Na toada desagregada dos não perdoados onde tudo é névoa Pois já não distingo os caminhos nem os ninhos Entre o cereal comestível e a daninha erva O aperto no estômago explode em lança perdida No centro da esquizofrenia humana Que não se apazigua mas dilacera perfura apodrece e engana A dor lancinante na cabeça pressiona o olhar sem roupagem nem lar Comprimindo o ouvido provocando o bloqueamento do maxilar Mesmo num ténue e disfarçado gemido Um murro obscuro onde se destrinçam estrelas Inicia a desintegração sincopada das articulações Abertas em desintegração total sem balizas nem portões Tornei-me intolerante aos desperdícios e à sujeira À desarrumação sem just

Sinais do corpo

Nódulos perniciosos instalam-se pela calada sem sintomas E cravam-se por entre os ossos e o músculo Anunciando o ritual da miscelânea gastronómica Provocando o desabamento das estrelas por entre o crepúsculo Os traçados vincam-se em mapas denunciadores do efémero Provocando ovulações guardadoras de estirpes resistentes Aos ambientes contaminados pelos primatas sábios Selando os testamentos falsos de folhas amarelecidas Diluídos pelas pastosas impressões digitais Pelo frenético sanguinário desenfreado da caça E pela saliva patológica das feras estropiadas O corpo mutila-se em indeléveis cicatrizes O lugar da cauda em depressão duvidosa Teimosamente abraçando o passado genético Dança com asfixias alérgicas Sofrimentos em queda quântica E as traições interiores em simulação de suicídios e sinusites O corpo baralha-se nas rebentações do mercado No morder da própria língua No roer as unhas como animais insanos Cortando os atilhos que prend