O olhar surpreende a chuva para lá do portal
húmido da vidraça
Enquanto o estômago é enganado no engodo
vertiginoso
De uma simples carcaça
Os dias repetem os ecos os risos os choros os
gritos os abraços e os sorrisos
Mas a memória elimina conteúdos de tóxicos
recheios
Em sobreposição das cordas que serviram para
enforcamento
E que no agora se transformam em oportunidades de
recreio
Caminho dentro de roupagens ensopadas e escalo
palcos
De horizontes em metamorfose inebriantes
inalcançáveis sedutores
Os sentidos fundem-se com explosões e colapsos
Embaraços e desembaraços piruetas e saltos à vara
E o corpo de que sou feita prega-me partidas rindo
da incredulidade
Como se por encantamento ou feitiço me
considerasse ave rara
Neste atalho por onde deslizo sopro apenas como
vento sem norte
Uma gota de água derramada no abismo do oceano
onde me esvaio e mergulho
O resto excedente de uma planície que serve de
alimento às bestas
Apenas restolho
Trocas químicas resplandecem e atrofiam na
comunicação sem palavras Por entre os elementos tecedeiros de salivas amargas
Os campos elétricos faiscam nas montanhas
sedimentares de seixos magnéticos
Guerreiam as viroses psicoses rasgos de neuroses
Túneis deslizantes e inquietos
Outras paragens no desanuviar da noite novas
estações
Tresloucadas panorâmicas climas tempestuosos
loucas atmosferas
E buracos escavados onde os ovos dos
extraterrestres
Esperam o advento da primavera em estratos e
deportações
De catos e flores de surdos e degustações
A minha linha do universo assemelha-se ao circuito
de uma barata tonta
Que apanha boleia de uma carroça prestes a
desintegrar-se no caos negro
De um asteroide esburacado em rota inevitável de
infinitas colisões
Vibro apenas como ondulação imperfeita e segmento
de nada
Como sinal de sentido obrigatório na
transitoriedade das constelações
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