Foto: José Lorvão |
Multidões humanas manchando o piso incerto dos
caminhos ansiosos da salvação
Erguem o rosto ao céu porque para chorar não há
tempo e é imperativo nunca deixar de respirar no revigorar da união
Ouvem-se os gritos das mães carregando os filhos
E só na mente do facínora faz sentido a chacina
criando cenários nebulosos
Açambarcando todos os dependentes fracos confusos
ociosos
Espera-se a desinfeção dos esgotos a limpeza dos
desperdícios arrastados pelas marés
A decapitação do trigal nas planícies onde os
velhos olivais são invadidos pelos fungos
E a luz da candeia esmorece nas noites mais longas
na iminência de outros mundos
Os pomares são esquartejados por certificados
pomposos de ostentação
Para que estômagos sequiosos e avantajados
Pudessem fazer crescer gigantes provocadores de
alienações
Deixando outras bocas à míngua e pela fome
esquelética dominados
Que homem?
Que sociedade?
Que neura?
Que loucura que insanidade?
Que química perdura na ostentação das luzes?
Que mundo se cria e lê no olho de Osíris que tudo
sente e vê?
Que barca se navega em paragens de delírio de
névoa cinzenta
Que cavalos débeis e sem vontade se escondem
Na manada que no árido vale armadilhado se
apascenta?
Provoquemos a movimentação das águas criando lagos
mais cristalinos
Bombardeemos o muro largo e alto do obscurantismo
Ergamos as montanhas verdejantes berço dos seres
Sobrevoemos a queda dos cárceres da indignidade
Ateemos o lume criemos a mudança benemerente mesmo
no roncar ameaçador de um sismo
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