Foto: José Lorvão |
O que trago da magnitude da invisibilidade
É a estranheza com que me enfeito
O espanto inevitável com que me cubro como manto
A dúvida açambarcadora com que me deito
E um sentir interior de agrura do desvendar das
fossas abissais
Como uma lagarta que dá o salto da penumbra do
líquido morno
Para o ar frio e cortante da vastidão
Sem bens sem roupagens
Apenas sofrendo o empurrão para um ninho uma
guarida
De penas raquíticas e visão distorcida invadida
por cataratas e poluída
O que carrego é o peso infernal da revolta
O grito abafado ansiando a devolução em eco
De um grunhido de dor em rédea solta
É a vergonha de pertencer a uma sociedade de
servos acanhados
Sem autonomia sem crítica sem ética
Vivendo para suicídios frenéticos e conformados
Carrego a ira de impotência entre amarras
Assistindo à morte de um planeta em agonia
Porque os camaleões se abastecem de luxos
supérfluos
E roubam o que a todos pertence
Enquanto verdugos anseiam por mais ter
A maioria não sabe como sobreviver
O que levo é apenas silêncio indiferença
desprendimento
Constatação austera de plataformas fugidias
Encaixando cinematografias de guerras e
carnificinas
Levo também das crianças a calmaria
O entusiasmo da descoberta a alegria
A luz presente num verdadeiro lar
O chapinhar em risota por entre o nu integral
No desmaio em êxtase sobre as ondas brancas do mar
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