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O roncar da cidade



 
Foto: José Lorvão
Nas ruas da cidade bordam-se sinaléticas de socorro
Pois que vampiros proliferam por entre atmosferas de secura
Acenando ao navegador do tempo criado em laboratório
Instalando-se nos pedestais aproveitando o esburacar do muro
Esbracejando o viajante no deslizar do guarda-chuva negro em túnel inglório
E a Amazónia em agonia!


As nuvens de algodão doce sobrevoam a cidade corrompida
E o sol abraça as avenidas poluídas de Lisboa envelhecida
Sustendo o abandono da arquitetura das emoções pelas esquinas sem alma de casas desabitadas
Os turistas apressados deixam rastos de sonhos e ilusões
Enquanto os negócios se inventam nos chifres da sobrevivência de um país desmantelado
Pelo roubo descarado amnésia endémica e o corte profundo do machado
E a Amazónia em agonia!


E as nuvens de algodão doce pairando sobre a cidade poliglota
E as pedreiras a céu aberto anunciando a catástrofe nos poços opacos da ganância
E a derrapagem no asfalto feita estrondo dos metais em dia de chuvas torrenciais amedrontando a multidão
Cria pacto de tensão com o roncar das aeronaves passando a rasar o alto dos edifícios em ensurdecedora trepidação
E assassinada na linha cósmica acompanhando o desespero da Terra ouvem-se os seus ais
Permanecendo a Amazónia em agonia por entre os mangais


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