Avançar para o conteúdo principal

O rodopio do tempo



 
Foto: José Lorvão
Cruzam-se os espelhos na deformidade anunciada
Quebram-se os cristais voando na multiplicidade das velocidades
Pelos truques de ilusão claustrofóbica e parada
Onde as bestas rastejantes trocam papéis
E saltam nas prateleiras da ostentação das pedras
Na articulação dos ramos das árvores agitando o socorro
Escavando galerias de seres crescendo de acrescentos
Lambendo as gotas de água do húmido subsolo
Enquanto a omnipresença se esconde da perspetiva limitada
Das serpentes submersas na banheira higiénica
Repelente de vida alheia esgravatando persistente na clandestinidade
Na estonteante velocidade da luz que intermitente engana a plateia
Deslumbrados primatas batedores de terreno de cara feia
Ignorando que quem viveu permanece
E quem permanece morreu!

Entre um suspiro e outro o que acontece excedeu
E o que excedeu nas reentrâncias da dilatação do espaço desapareceu
O mágico ri do desnorteamento humano
Que de tão ruim produziu-se a si mesmo como desumano
O que é não existe não está lá mas na correnteza persistente
Espaço e tempo dançam na inquietude dos neurónios
E numa fração de segundo salto o muro num lamento
Visualizo a cirurgia a luminosidade do salão
O cirurgião gentil-homem e o inevitável advento

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Inverno tenebroso

  Abraço o corpo enfraquecido pela turbulência dos lodaçais Que agoniza perante as chuvas que se evaporam em solos de mordaças e temporais Refugiando-se a mente num submundo sem escravatura Fervilhando a revolta perante a indiferença e chacota dos demais   O isolamento contorna cada curva do feminino Entontecido pelas cavalgaduras sem rosto Capta sementes de destruição Torrentes agressivas de desilusão E os sorrisos transformam-se em rasgos de bocas Onde dentes sem mácula se preparam para triturar e engolir as presas   A sofreguidão de mimos e bajulações é tanta que se escarra Para cima de quem se mantém afastado da mímica De adoração de mafarricos à solta Batendo asas como loucos mesmo sem poderem voar     Neste inverno as nuvens pousaram em campos contaminados Em pulmões doentes expostos ao inquinamento das viroses Em hepatites devoradoras de órgãos contaminados por sugadores de sangue Proliferaram nas chicotadas psicológicas da loucura No

Estado de calamidade

  Foto: José Lorvão Anunciam-se aos ventos catastróficos tempos espinhosos Interioriza-se que a verdadeira praga Aparece como bicho sem emoções humanas Que dá pelo nome de industrialização capitalista E como verme corrosivo vem-nos devorando o corpo e a alma Ao longo das cintilações de extermínio do passado e presente Que provocam flagelos cada vez mais mortíferos Numa plataforma escorregadia indiferente ambiciosa e calculista Triste maio que açaimas as bocas atabafando os prantos Eliminando sorrisos e expressões faciais milenárias Anulando a comunicação instintiva de quem capta um rosto por inteiro Endurecendo a inquietude das ignorantes práticas sanitárias O mundo atola-se na lama da precariedade da saúde pública A nutrição harmoniosa aparece como utopia Num povo sobrevivendo à míngua desdentado e contaminado Pelas más condições de vida sem vigor e educação Pois a ruína ecológica é fruto da insanidade Da paranoia dos ditadores e dos t

Carreiro íngreme

Foto: José Lorvão   Mastigam-se a custo os cardos feitos de contratempos e inseguranças Os prazeres sufocam cerrados no baú secreto em lugar incerto e pulveroso Abundância não vive no meu tempo de vida neste mundo Mas que carreiro é este que me magoa os membros de piso escabroso E ameaça a todo o instante a queda deslizando sem controlo até ao fundo   Os obstáculos que ultrapasso provocam a miscelânea da ruína E o triunfo que obtenho transita pela névoa em substância neutra Que me suaviza os dias persuadindo que sou ser sem idade Apenas um corrupio de vocalizações automáticas de ansiedades e esforços De subidas e descidas de escorregadelas e deslizes   Mas prossigo o ascendimento ignorando para que local me dirijo Este caminho íngreme de terra onde rolam pedras por entre buracos Provoca-me o cansaço asfixiante do calor do deserto por entre cacos   A mão que segura a minha é de alguém que conhece e ampara A minha dificuldade de locomoção em terreno esco