Os encasacados pedestres apalpam o piso da
passeata soalheira
Aguardando a cópula do sol sobre o horizonte
Enquanto os fetos humanos pressentem para lá da
cortina vermelha
O conflito a violência o amor vendido a
bandalheira
Transita por entre o frio da tarde de inverno a
cinematografia dos abraços
As lágrimas correndo inundando a maquilhagem das
faces
Que amachucadas experimentaram dolorosos
desenlaces
Pantomineiros repuxam para a tela os gestos
envaidecidos
Pela pintura exagerada do arlequim transfigurado
Na surpresa bailarina embasbacada pelos patéticos
sorrisos
E na inversão da imagem saltitam os reflexos
provocadores
Perante a personagem desprezada solitária e
mal-amada contempladora do céu
Denunciando posses transitórias na profundidade
dos espelhos percursores
Ante a nudez calorosa do equilibrista
O ciclista pedala na corrente curvilínea da
explorada e perversa pista
E por entre o ritmo do vem e vai
Eis que num gesto desinteressado a criança
resmunga
Num gesticular de revolta recusa o fascínio pela tecnologia
engana tolos
E vira costas ansiando pela dança bordando com os
pés o chão
Gritando um histérico não ao pedido de tirar uma
foto com o respetivo pai
O enrolamento das ondas anuncia a revolta interior
Contra as plataformas movediças cheias roliças
Da engenharia informática angariadora de escravos
felizes tal é a sedação
Enquanto o surfista corta as malhas da rede
Manobra os sonhos negros medonhos em fantasia
malfadada
Com malabarismos de navegador ao sabor dos
vórtices
Desprendendo-se a salsada patológica no traçado
psicótico
Em choques elétricos agitando os neurónios
descontrolados da espécie castrada
Minha querida Ana, os teus poemas são sempre um alerta para mim. Leio e releio . Fascina-me este teu dom que persuade. Penso que tens uma capacidade invulgar para retratar este mundo desastroso em que vivemos.
ResponderEliminarQuem me dera que tudo fosse diferente do que escreves. Infelizmente tudo o que dizes é verdade. É rica a tua escrita, fantástica e brutal.
Obrigada Isabel. Abraço.
Eliminar