Avançar para o conteúdo principal

O colapsar dos esqueletos



 
Foto: José Lorvão
O calor de inverno expõe a contradição dos tempos
A paranoia subtil dos templos
O ritual ansioso pela eternidade sem nexo dos corpos
Os ligamentos corroeram as células sem comando maior
Mirraram pela invasão da aridez planeada no balançar dos trapézios
Que teimam em criar arquiteturas de corais suspensas
Nas torres sem alicerces de um cosmos fictício
Feito de correntes serpenteantes na escuridão dos invisuais
Que palpam os nutrientes de subsistência
Perante o gozo estonteante dos criadores da existência


O calor de inverno traz consigo o gás venenoso
Provocando o automatismo dos automobilistas da avidez
Fazendo pacto misterioso com o acelerador de partículas
Os pés transformam-se em bolas de sabão
E flutuam na maré salgada dos oceanos
Esperam a muda da pele esperançados na eternidade da beleza celeste
Os braços metamorfosearam-se em asas de condor
Controlando das alturas a passagem das criaturas de escravos a senhor


O calor de inverno troca os costumes
Não faz a distinção entre alimento e magro sustento
Inventa novas piruetas e empurra para os vulcões em atividade
Os irrequietos e renovados estetas
Enquanto a matreirice espreita e delineia o golpe
Perante o roer de unhas desgastadas pelas incongruências das crucificações
Pelas cidades corrompidas pela contaminação dos canais aquíferos
Onde os ratos flutuam na mixórdia dos dejetos
E sobrevivem como vampiros pela acidez das deceções

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Inverno tenebroso

  Abraço o corpo enfraquecido pela turbulência dos lodaçais Que agoniza perante as chuvas que se evaporam em solos de mordaças e temporais Refugiando-se a mente num submundo sem escravatura Fervilhando a revolta perante a indiferença e chacota dos demais   O isolamento contorna cada curva do feminino Entontecido pelas cavalgaduras sem rosto Capta sementes de destruição Torrentes agressivas de desilusão E os sorrisos transformam-se em rasgos de bocas Onde dentes sem mácula se preparam para triturar e engolir as presas   A sofreguidão de mimos e bajulações é tanta que se escarra Para cima de quem se mantém afastado da mímica De adoração de mafarricos à solta Batendo asas como loucos mesmo sem poderem voar     Neste inverno as nuvens pousaram em campos contaminados Em pulmões doentes expostos ao inquinamento das viroses Em hepatites devoradoras de órgãos contaminados por sugadores de sangue Proliferaram nas chicotadas psico...

Equilíbrio

  Procuro equilíbrio no bico do prego revestido de ferrugem Perante as vergastadas invisíveis que me dilaceram A amígdala sobrecarregada com a invasão dos répteis Abrem-se os instintos escorrendo a ansiedade do corte Ondulando a depressão incontrolável massacrada pela visão da morte   Há um bloqueio em forma de choque que me trespassa a alma O respirar mecânico arrasta consigo os desgostos Enfeitados pela indiferença de quem perdeu a capacidade de sentir empatia Disfarçam-se os maus-tratos a hora certa Num trabalho austero em que a porta de saída está sempre aberta   A dubiedade é irmã gémea da falência A inquietação e esmorecimento acumulam-se Perante o cenário acabrunhado e cinzento onde floresce a indecência   O rebaixamento é executado com a frieza A depreciação provém do fundo do poço Onde as algas esfomeadas desejam o estrelato E as trepadeiras se enrolam aos nossos pés desejando a queda Em abalroamento do corpo e espír...

A sobreposição das cordas

Foto: José Lorvão O olhar surpreende a chuva para lá do portal húmido da vidraça Enquanto o estômago é enganado no engodo vertiginoso De uma simples carcaça Os dias repetem os ecos os risos os choros os gritos os abraços e os sorrisos Mas a memória elimina conteúdos de tóxicos recheios Em sobreposição das cordas que serviram para enforcamento E que no agora se transformam em oportunidades de recreio Caminho dentro de roupagens ensopadas e escalo palcos De horizontes em metamorfose inebriantes inalcançáveis sedutores Os sentidos fundem-se com explosões e colapsos Embaraços e desembaraços piruetas e saltos à vara E o corpo de que sou feita prega-me partidas rindo da incredulidade Como se por encantamento ou feitiço me considerasse ave rara Neste atalho por onde deslizo sopro apenas como vento sem norte Uma gota de água derramada no abismo do oceano onde me esvaio e mergulho O resto excedente de uma planície que serve de alimento às bestas A...