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Escondida nas dobras



 
Foto: José Lorvão
Esvoaço e num deslize capto o apaziguamento das libélulas
Fadas deste e doutro mundo
Manobram-me os pensamentos e fazem acontecer
Cintilações de amenidade em foles que sopram a brisa da serenidade
Pois quando julgo que o meu corpo caiu na fossa
Eis que energias entre dobragens me sustêm
Me provocam a flutuação sobre brisas
E fluem espaçadas e coloridas
Mesmo nas horas mais confusas e indecisas


A concertina afaga os sons das criaturas aladas
Que dançam sobre os rios e os lagos
E as minhas lágrimas de desespero unem-se à água corrente
Procurando buracos de acesso a novas margens
Outros espaços em expansão e delirantes paisagens


A tropelia aguarda porém para aplaudir quando cair por terra
Quer apanhar-me desprevenida quando a convivência
Se tornar enfadonha e austera para me cortar as pernas
Definhar-me os braços espetar-me as lanças afiadas
Rir-se na minha cara perante solas de sapatos desgastadas

A harmónica dobra-se pelas mãos do tocador
E eis que estranhas palavras se inventam
Outros tesouros se desfolham
E novas estradas se desmembram
Para outros rumos surgirem por entre linhas e curvas
Que se entre-cruzam na gratidão plena
Do meu centro sentido vivido dado e partilhado do meu coração
Se pudesse eu caminhar pela montanha
Num carreiro estreito e brando imenso
Não quereria mais nada
Estaria em paz pois alcançaria o meu merecido descanso

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